Foto: Reprodução/@FelipeCardoso10 / Estadão
Meia Felipe Cardoso atuou em quatro jogos pelo Tricolor na temporada e segue lutando para superar traumas em busca de sonho: “Antes de jogo ainda passa tudo na minha cabeça”
Sobrevivente da tragédia do Ninho do Urubu, em 2019, o meia Felipe Cardoso, aos 21 anos, inicia 2024 com um novo desafio: seu primeiro ano como atleta profissional. No Santa Cruz, ele falou com o ge sobre a motivação para seguir com o sonho de firmar-se como jogador após tudo o que passou e com as lembranças daquele dia ainda vivas (assista à reportagem no vídeo abaixo)
Meia Felipe Cardoso, hoje, no Santa Cruz, conta a sua história como sobrevivente da tragédia que aconteceu no Ninho do Urubu, quando defendia o Flamengo
“Antes de jogo ainda passa tudo na minha cabeça, antes de dormir também, quando eu fecho o olho já lembro de tudo que passei”, afirma Felipe Cardoso.
– (Eu continuo) Por conta dos meus companheiros que se foram, por conta de toda luta da minha família, por Deus ter me dado uma oportunidade. Não tinha como simplesmente eu falar: “Não quero mais isso pra minha vida, quero largar isso”. Porque acho que seria uma ingratidão da minha parte de abandonar tudo – acrecenta.
Felipe Cardoso, do Santa Cruz, em clássico contra o Náutico — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Naquela fatídica madrugada de 8 de fevereiro, 10 amigos da base morreram. Felipe escapou porque ficou acordado até mais tarde conversando por telefone com o irmão, já que no dia seguinte não teria treino.
Apesar da resiliência apresentada hoje em dia, durante muito tempo a vontade de manter-se lutando por uma carreira profissional deu lugar aos traumas.
“Eu lembro que me fechei por um bom tempo. Não me abria com ninguém, não conversava muito com a minha família, não queria sair de casa, não tinha ânimo pra nada, sabe? Só se passava na minha cabeça por que daquilo estar acontecendo…”
Após a tragédia, Felipe Cardoso voltou para a base do Flamengo, jogou por três meses e foi dispensado – o processo de indenização ainda corre em segredo de Justiça. Sem condições financeiras de pagar o tratamento psicológico adequado, o meia teve o suporte do Bragantino, para onde transferiu-se na sequência e seguiu o trabalho de base.
Neste ano especial e de novos desafios, já foram quatro jogos pelo Santa Cruz, inclusive com titularidade no clássico contra o Náutico, no último sábado. Os primeiros de muitos, em uma carreira que vai muito além do próprio sonho de Felipe, que joga também pelos amigos que se foram, e pela família.
– É mais uma página da minha história, Deus tem um propósito na minha vida. O Santa Cruz foi um time que realmente abriu as portas novamente pra mim, pra voltar a ter o sentimento de competir, de jogar, de ter a chama em mim de sobrevivência de novo.
(GE)