O tribunal da internet se apressa em julgar artistas e ‘esquece’ de cobrar solidariedade da elite econômica do país
Em solidariedade às vítimas do desastre climático no Rio Grande do Sul, uma pessoa milionária tem a obrigação de doar proporcionalmente ao tamanho de seu patrimônio?
E se o cidadão for famoso, precisa aumentar o valor? Deve divulgá-lo para servir de exemplo e inspiração ou melhor manter em sigilo para não correr o risco de transformar a boa ação em publicidade?
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Estas questões estão efervescentes nas redes sociais nos últimos dias. A influenciadora Virgínia Fonseca, que comanda o ‘Sabadou’ no SBT, foi massacrada por críticos de sua doação de R$ 150 mil às vítimas das enchentes.
“É muito pouco”, disseram. Pela ostentação exibida diariamente a partir de mansões e marcas de luxo, ela deveria ter sido mais generosa, afirma parte da internet. O argumento tem lógica, porém, não é justo. O valor possui relevância.
Estamos tão (mal) acostumados com o exagero na vida das celebridades e dos bilionários midiáticos que a doação equivalente a 106 salários mínimos pode parecer pequena. Distorção da nossa percepção.
Várias vezes mais rico do que Virgínia, o ‘rei’ Roberto Carlos doou R$ 200 mil. Não recebeu a mesma onda de ataques provavelmente por ser bem mais discreto sobre o estilo de vida. O cantor pretende fazer um show beneficente com renda 100% revertida à reconstrução do RS.
Ainda que o dinheiro a ser arrecadado não sairá do bolso dele, e sim dos fãs que pagarão pelos ingressos, trata-se de um gesto nobre que poderia ser copiado por outros artistas com poder de mobilização.
Comovido após ver imagens de famílias desabrigadas, o ator Nicolas Prattes transferiu R$ 50 mil para uma conta em prol das vítimas das chuvas. Certamente, uma cifra maior do que a da maioria das doações individuais de seus colegas de TV.
Outros famosos enviaram grande quantidade de alimentos, garrafas d’água, produtos de higiene e roupas. Alguns emprestaram caminhões, como Anitta, e aeronaves, a exemplo de Neymar, para o transporte de material.
Houve quem optasse por ajudar apenas divulgando o número de contas para doações a seus fãs e seguidores. Cada um faz o que pode – ou quer. Toda ajuda é importante.
Nas redes sociais, esse tom de cobrança aos artistas não se vê em relação aos maiores empresários, investidores, políticos, donos de emissoras de TV, esportistas e demais integrantes da elite econômica do país.