Jornalista é narradora do espetáculo ‘Pedro e o lobo’; os ingressos já acabaram
A jornalista Sandra Annenberg, narradora do espetáculo ‘Pedro e o lobo’ Fernanda Sá
Nesta sexta-feira (28), Sandra Annenberg não estará apenas no “Globo repórter” (que exibe uma reportagem sobre o poder da gentileza). A ex-âncora do “Jornal Hoje” também subirá ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para retomar uma carreira de atriz interrompida há 32 anos. Ela interpreta a narradora do espetáculo de “Pedro e o lobo”, do compositor russo Sergei Prokofiev (1891-1953). Até domingo, serão cinco apresentações. Os ingressos já acabaram.
— Não dá nem para fingir que estou blasé — diz Sandra por telefone ao GLOBO. — Reestrear como atriz no Theatro Municipal dá um outro peso, né?
A carreira de Sandra Annenberg como atriz
Sandra fez seu último trabalho como atriz em 1991. Atuou no curta metragem “O jogo da memória”, dirigido por Denise Vieira Pinto e baseado num conto de Lygia Fagundes Telles. À época, iniciava sua carreira jornalística. Antes, havia feito comerciais de TV e participado de novelas como “Pacto de sangue” e “Cortina de vidro”, de minisséries e do seriado “Tarcísio e Glória”.
O retorno à atuação também não foi planejado. No fim de 2021, a diretora Muriel Malaton falou sobre a montagem de “Pedro e o lobo”. Sandra perguntou se ela já havia escalado uma narradora. Muriel disse que não e perguntou se ela queria o papel. Sandra topou.
O “Pedro e o lobo” que Sandra e Muriel levam ao Municipal não é a fábula do menino mentiroso que, quando diz a verdade, ninguém acredita. Concebido por Prokofiev para apresentar as crianças soviéticas à música de orquestra, o espetáculo é protagonizado de um menino que vive ao lado de uma floresta e é amigo dos animais. Quando um lobo mau devora uma pata, Pedro se alia a um passarinho para se vingar. O avô do menino, caçadores e outros animais também participam da história.
Todos os personagens ganham vida por meio de sete bonecos criados por Marco Lima, que também colaborou com “The Masked Singer”. Cada um é representado por diferentes instrumentos tocados pela Orquestra Experimental de Repertório, regida por Guilherme Rocha: Pedro pelas cordas, o lobo pelas trompas, o avô pelo fagote, o pássaro por flautas, a pata pelo oboé, o gato pelo clarinete e os caçadores pela percussão.
“Pedro e o lobo” já foi narrado por vozes famosas como Sean Connery, Rita Lee, David Bowie e Roberto Carlos. Para Sandra, o maior desafio foi encontrar o tom adequado da narração e não repetir o que ela usa há três décadas em frente às câmeras. Muriel conta que, durante os ensaios, tentou ajudar sua narradora da quebrar qualquer “distanciamento” que houvesse entre ela e o texto (o que é exigido de quem dá as notícias na TV).
— Como jornalista, ela tem que represar as emoções. No palco, a voz dela é um instrumento para contar a história, como a orquestra, e esse distanciamento não pode existir — diz a diretora. — Quem vier ao espetáculo pode esperar uma Sandra Annenberg diferente da que conhecem da TV.
No palco, a voz da jornalista-atriz muda de tom e de velocidade, transmite assombro, busca a cumplicidade da plateia, alonga as sílabas ao afirmar que “o passarinho irrriiiiita o lobo”.
— Espero que o público consiga abstrair e ouvir uma voz que não é aquela a que todos estão acostumados — torce Sandra, que reconhece que a audiência tem uma “relação afetiva” com a sua voz. — Quando estou na fila do caixa da farmácia e falo alguma coisa, percebo que as pessoas imediatamente procuram uma televisão ligada. Aí eu brinco: “A diferença é que aqui não dá para mudar de canal”.
Ela também não exclui a possibilidade de continuar investindo na carreira de atriz.
— É um primeiro passo para quem sabe rolar outra coisa. Ou não. Não costumo fazer planos.
(O Globo)