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Cientistas querem ressuscitar o dodô, pássaro extinto desde o século 17

Esforços genéticos e tecnológicos buscam trazer o dodô de volta à vida, em um projeto que também poderá ajudar pássaros modernos a não entrar mais em extinção

  • Augusto Dala Costa

Se você tem alguma familiaridade com as espécies de animal já extintas do planeta Terra, então já conhece o pássaro de aparência curiosa que não voava e habitou as ilhas Maurício, no Oceano Índico, até o final do século XVII, quando foi exterminado pelo ser humano — o dodô (Raphus cucullatus). A chegada de marinheiros ao arquipélago trouxe espécies invasoras, como ratos e gatos, e práticas de caça que condenaram o animal à morte, especialmente porque ele não temia a presença de humanos.

Com técnicas de sequenciamento de DNA, edição genética e biologia sintética, cientistas buscam reviver a espécie, em um esforço que não apenas mira na proeza da manipulação genômica, mas também objetiva alcançar novas técnicas para conservação de pássaros ainda existentes em perigo de extinção. Especialistas indicam estarmos em uma crise de extinção atualmente, aumentando a importância da pesquisa.

Foto: BazzaDaRambler/CC-BY-2.0 / Canaltech

Desafios genéticos do projeto

O empreendimento é encabeçado pela empresa de biotecnologia e engenharia genética Colossal Biosciences, da paleogeneticista Beth Shapiro, do empreendedor Ben Lamm e do geneticista George Church. Também há esforços da startup para devolver à vida os mamutes-lanosos (Mammuthus primigenius) e o tilacino, ou lobo-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus).

O primeiro passo da empreitada, segundo os cientistas, já foi feito, que é sequenciar totalmente o genoma dos dodôs com base em DNA antigo. Isso foi possível pela coleta de material dos restos preservados do animal, guardados na Dinamarca. Depois, a equipe comparou esses genes com os parentes mais próximos do extinto pássaro, o pombo-de-nicobar (Caloenas nicobarica), espécie ainda viva, e o solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), tipo de pombo gigante já extinto.

A parte que virá a seguir, no entanto, é bem mais difícil do que as anteriores, e consiste na programação de células de um parente vivo do dodô utilizando o DNA do extinto pássaro. A ideia é adaptar uma técnica já existente, que usa células germinativas (precursoras do óvulo e espermatozoide), já usada para criar uma galinha a partir de um pai pato.