Ouça Ao Vivo

Conheça as histórias dos seis filmes brasileiros que disputam vaga no Oscar 2023; dois deles foram gravados em SP

Os concorrentes são ‘A Mãe’, ‘A Viagem de Pedro’, ‘Carvão’, ‘Marte Um’, ‘Pacificado’ e ‘Paloma’; há 23 anos, o Brasil não é indicado na categoria Melhor Filme Internacional.


A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais anunciou nesta semana a lista com os seis filmes nacionais pré-selecionados para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional na premiação do Oscar 2023.

São eles “A Mãe”, “A Viagem de Pedro”, “Carvão”, “Marte Um”, “Pacificado” e “Paloma” (leia mais abaixo sobre cada um deles).

Há 23 anos, o Brasil não é indicado na categoria Melhor Filme Internacional, que antigamente era chamada de Melhor Filme Estrangeiro. Apenas quatro obras conseguiram tal feito: “O Pagador de Promessas”, em 1963,” O Quatrilho” em 1996, “O Que é Isso, Companheiro?”, em 1998, e “Central do Brasil”, em 1999, co-produção brasileira com a França, que também teve uma indicação a Melhor Atriz para Fernanda Montenegro. Todos os quatro filmes são dirigidos por homens.

Para a diretora de “Carvão”, Carolina Markowicz, cujo filme é um retrato do Brasil contemporâneo que flerta com o passado violento e conservador, a nova safra de mulheres atrás das câmeras pode quebrar esse paradigma: “Isso inevitavelmente vai acabar acontecendo pelas virtudes dos filmes das mulheres brasileiras. Ainda está longe de a indústria oferecer as mesmas oportunidades para homens e mulheres, mas a qualidade do cinema feito por mulheres vem constrangendo isso de certa forma”.

A diretora de “A Viagem de Pedro”, Laís Bodanzky, também na disputa por uma vaga no Oscar, vai além: “É uma mudança de hábito e de imaginário. Os postos de liderança no cinema são sempre de homem e quando tem uma mulher muitas vezes as pessoas têm preconceito e associam à fragilidade. Essa seleção já representa um movimento do audiovisual brasileiro e chama a atenção para o equilíbrio”.

Gabriel Martins, diretor de “Marte Um”, afirma que, para ele, o Oscar é como a parábola de Davi contra Golias: “O que a gente tem a oferecer é o nosso talento. Temos o pé no chão, mas não temos vergonha de sonhar alto”.

Como funciona a escolha

Ao todo, foram 28 longas-metragens inscritos e habilitados a concorrer à vaga e, pela primeira vez, a eleição será realizada em dois turnos. Na próxima segunda-feira (5), será anunciado o escolhido, entre os seis pré-selecionados.

A comissão é formada por 19 pessoas: André Pellenz (cineasta), Barbara Cariry (produtora e presidente da comissão), Cavi Borges (cineasta), David França Mendes (cineasta), Eduardo Ades (cineasta), Guilherme Fiúza Zenha (produtor), Jeferson De (cineasta), João Daniel Tikhomiroff (cineasta), João Federici (curador), José Geraldo Couto (jornalista e crítico), Juliana Sakae (documentarista), Marcelo Serrado (ator), Maria Ceiça (atriz), Patricia Pillar (atriz), Petra Costa (cineasta), Renata Almeida (produtora de eventos), Talize Sayegh (cineasta), Waldemar Dalenogare Neto (pesquisador) e Zelito Viana (cineasta).

Nunca na história houve tanta gente fazendo parte da comissão, que inicialmente tinha 25 pessoas, e nunca a escolha do candidato a representante do Brasil será feita com tanta antecedência. O filme escolhido terá pouco mais de quatro meses de campanha para atrair a atenção e o coração de quem vai escolher os indicados nos Estados Unidos. O anúncio sai em 24 de janeiro, e a premiação será em 12 de março de 2023. É quase o dobro do tempo que “Deserto Particular”, de Aly Muritiba, teve no ano passado.

A MÃE

“A Mãe”, de Cristiano Burlan, conta a história de Débora, uma das líderes do movimento Mães de Maio, apresentada no longa como “Maria”. Migrante nordestina e vendedora ambulante, ela está em busca de seu filho Valdo, supostamente assassinado por policiais militares durante uma ação na vila onde mora.

Em maio de 2006, policiais e grupos paramilitares de extermínio, ligados à polícia, promoveram o que chamaram de “onda de resposta” aos ataques de uma facção criminosa em São Paulo. O resultado foi o assassinato de cerca de 500 pessoas, das quais 400 eram jovens negros, afro-indígena-descendentes e periféricos. Nem todos os mortos foram encontrados, a maioria continua desaparecida até hoje.

As mães, revoltadas com as mortes praticadas por policiais, braço militar dos estados, fundaram o movimento Mães de Maio.

Em agosto deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, federalizar as investigações sobre os crimes de maio de 2006 no Parque Bristol, na capital paulista. O tribunal reconheceu as falhas na investigação feita pelos órgãos públicos estaduais de São Paulo.

Apesar de ser uma obra de ficção, ela tem um pé na realidade: “Eu adoraria fazer um filme sobre questões mais leves, sobre uma família rica e feliz de frente para o mar. Essa é a minha história e de muitos brasileiros”, disse Burlan, em entrevista ao SP1.

O filme foi rodado no início de 2020, antes da pandemia, no Centro e no Jardim Romano, na Zona Leste. O irmão do diretor, assassinado no Capão Redondo, também foi uma das inspirações: “O que importa é que o filme seja visto e esse tema tão periclitante à sociedade brasileira seja debatido”. O longa chega aos cinemas brasileiros em 10 de novembro.

Da violência do estado à denúncia da naturalização dos absurdos. “Carvão”, de Carolina Markowicz, foi filmado em Joanópolis, no interior do estado, e está selecionado para os festivais de Toronto e depois de San Sebastian.

“Eu estou super animada e ansiosa para os próximos momentos e essa notícia da pré-seleção para tentar uma vaga no Oscar só aumentou a ansiedade louca que a gente tá e essa alegria de colocar o filme no mundo depois de tanto trabalho”.

  • Direção: Cristiano Burlan
  • Produção: Cup Filmes, Bela Filmes, Filmes da Garoa

A VIAGEM DE PEDRO

Coprodução da Globo Filmes, estreou ontem nos cinemas e mostra uma narrativa inédita, um olhar para Dom Pedro I que refuta os mitos construídos ao longo de quase dois séculos. No filme de Laís Bodanzky não há heróis nem vilões.

O primeiro imperador brasileiro, interpretado por Cauã Reymond, aparece atordoado no navio que nunca chega ao destino final. A câmera treme, a fotografia fica turva e, em vez de um Dom Pedro heróico e poderoso, encontramos um personagem fugindo do passado, com ódio, rancor e muita frustração.

Além de ser retratado como um homem tóxico, que atormenta e desrespeita com frequência as mulheres. Previsto para 2020, o filme atrasou por causa da pandemia e quis o destino que chegasse aos cinemas no bicentenário da Independência.

  • Direção: Laís Bodanzky
  • Produção: Biônica Filmes, Buriti Filmes, O Som e a Fúria e Sereno Filmes

CARVÃO

Numa pequena cidade do interior, uma família recebe uma proposta rentosa, mas também perigosa: hospedar um desconhecido em sua casa. Antes mesmo da chegada dele, no entanto, arranjos precisarão ser feitos, e a vida em família começa a se transformar. Porém, nenhum dos familiares, e muito menos o próprio hóspede, vê suas expectativas cumpridas. “Carvão” é um retrato ácido de um Brasil onde impera a naturalização do absurdo.

  • Direção: Carolina Markowicz
  • Produção: Cinematográfica Superfilmes

MARTE UM

Os Martins, família negra de classe média baixa, seguem a vida entre seus compromissos do dia-a-dia e seus desejos e expectativas, mesmo com a tensão de um governo conservador que acaba de assumir o poder no país. Em meio a esse cotidiano, Tércia cuida da casa enquanto passa por crises de angústia, Wellington quer ver o filho virar jogador de futebol profissional, Eunice tem um novo amor e o pequeno Deivinho sonha em colonizar Marte.

  • Direção: Gabriel Martins
  • Produção: Filmes de Plástico Produções Audiovisuais

PACIFICADO

Tati é uma menina introspectiva de 13 anos que luta para se conectar com seu distante pai, Jaca, recém-saído da prisão no momento turbulento das Olimpíadas do Rio. Enquanto a polícia “pacificadora” luta para ocupar as favelas ao redor do Rio, Tati e Jaca precisam navegar entre os obstáculos que ameaçam suas esperanças para o futuro. Nascido de uma colaboração criativa de sete anos entre a comunidade ‘Morro dos Prazeres’, o escritor/diretor Paxton Winters, Wellington Magalhães (Maga) e Joseph Carter (Joe), PACIFICADO oferece um retrato íntimo de uma família tentando encontrar a paz no inconstante campo de batalha, que eles chamam de casa.

  • Direção: Paxton Winters
  • Produção: Reagent Media

PALOMA

Paloma, agricultora, quer um casamento tradicional em uma igreja com o namorado Zé. O padre local recusa seu pedido. Mas Paloma, uma mulher trans, vai lutar por seu sonho.

  • Direção: Marcelo Gomes
  • Produção: Carnaval Filmes