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De ‘desequilibrado’ a ‘saber levar’: o que árbitros do Brasil pensam sobre Abel Ferreira, do Palmeiras?

Abel Ferreira recebeu no clássico entre Palmeiras e São Paulo seu 51º cartão desde que chegou ao Brasil. O amarelo pela discussão com o atacante Jonathan Calleri, porém, deveria ter sido vermelho na avaliação da Comissão de Arbitragem da CBF, o que poderia ter feito o português chegar a nove expulsões em menos de três anos no país.

O alto número de advertências levanta um debate constante sobre o treinador multicampeão: ele é “perseguido”, como o próprio clube alviverde já defendeu em algumas ocasiões, ou merece, de fato, ser repetidamente punido pelos árbitros por mau comportamento?

Para tentar responder a essa pergunta, a reportagem da ESPN ouviu árbitros de diferentes níveis do futebol nacional, de juízes centrais com escudo Fifa a assistentes que costumam acompanhar os jogos bem próximos de Abel. Eles já entram em campo com alguma predisposição contra o português ou aplicam a regra como fariam com qualquer outro?

Não houve uma resposta unânime entre aqueles que toparam se manifestar sob condição de anonimato. Abel foi, sim, duramente criticado por alguns dos árbitros ouvidos, com adjetivos pouco amistosos (“desequilibrado”, “dissimulado”, “cínico”…); mas também foi defendido e elogiado. Para esse segundo grupo, é questão de “saber conduzir”.

Abel é ‘perseguido’ pela arbitragem?

O primeiro cartão que Abel recebeu no Brasil foi também sua primeira expulsão: em novembro de 2020, em partida do Campeonato Brasileiro contra o Ceará, no Allianz Parque, ele recebeu o vermelho de Bráulio da Silva Machado por, segundo a súmula, ter dito: “vá se f…, vá tomar no c…, vem ver que não foi nada”, após pênalti marcado contra o Palmeiras.

Em sua entrevista coletiva pós-jogo, o treinador, então recém-chegado, acusou Bráulio de “arrogância e prepotência”. Curiosamente, mais de dois anos depois, essas foram palavras que foram usadas por dois árbitros para definir Abel à beira de campo.

Para além dos adjetivos, Abel também foi descrito pelos profissionais do apito como “difícil de trabalhar”, justamente pela recorrência com que contesta decisões em campo. Houve menção a um cartão recebido por reclamar de um lateral sem importância durante o jogo.

Embora declarações como essas tenham se repetido nas conversas com a reportagem, um outro fato foi apontado como principal para explicar o elevado número de cartões: a orientação da CBF de tolerância zero com as reclamações em 2023 – no Brasileirão deste ano, Abel já recebeu quatro amarelos e um vermelho e também foi advertido uma vez na Copa do Brasil.

Vale ressaltar, porém, que não foram apenas brasileiros que deram cartões para Abel no comando do Palmeiras. Em 2022, ele recebeu, por exemplo, amarelo na final do Mundial de Clubes, contra o Chelsea, mostrado pelo australiano Chris Beath; e já foi expulso pelo venezuelano Jesus Valenzuela, na CONMEBOL Recopa, contra o Athletico-PR.

histórico de expulsões também o acompanha desde Portugal, como mostrou a ESPN, com direito até a discussão a beira de campo com jogadores – com Fabio Coentrão, ex-Real Madrid e então no Sporting.

No Brasil, porém, 2023 já é o ano em que Abel mais acumulou expulsões, com três – contra duas em 2022 e também 2021 e uma em 2020. Um auxiliar, inclusive, disse que nunca havia se incomodado com os “rompantes” do português, mas, com a nova orientação, é mais rigoroso nas comunicações com os árbitros sobre mau comportamento à beira de campo.

Árbitros gostam de Abel Ferreira?

Até quem elogia Abel reconhece que a fama que o treinador construiu publicamente, de estar constantemente reclamando à beira de campo, o prejudica. Os depoimentos colhidos pela reportagem dão conta que é difícil não entrar para uma partida “preparado” para o comportamento do palmeirense.

A grande questão é o que acontece quando a bola rola. Uma das pessoas ouvidas, por exemplo, garante: está tudo “zerado”. Se Abel age dentro das regras, não há problemas; se sai, deve ser advertido.

Após o entrevero com Calleri, inclusive, Abel definiu que demonstrou no clássico suas duas versões, a de uma pessoa extremamente competitiva, a ponto de “peitar” um atleta rival; mas depois, ao apito final, fica tudo em campo – o português saiu abraçado com o argentino.

Um dos assistentes ouvidos pela reportagem concorda exatamente com essa autoanálise. Em suas palavras, Abel é um técnico que, como outros, quer ganhar, sofre cobrança e está sempre atrás do resultado. “Questiona, fica bravo, mas faz parte, temos que saber controlar”, disse.

O que incomoda em árbitros sobre Abel?

Algo dito pelos árbitros, que acaba pesando contra Abel na relação com os homens do apito, é que seu estilo “contestador”, muitas vezes, passa a ideia de uma tentativa de transferir responsabilidade. Se o Palmeiras não vai bem, é porque foi prejudicado em alguma decisão da arbitragem.

E não é só Abel que foi criticado por alguns dos que aceitaram falar com a ESPN. Um deles criticou também a comissão técnica do treinador, definida como “mala” em suas palavras.

Em Palmeiras x São Paulo, por exemplo, após Abel receber cartão amarelo pelo problema com Calleri, um de seus auxiliares, João Martins, também foi advertido por reclamação.

(* Colaboraram Carlos Eugênio Simon, Leonardo Gaciba e Renata Ruel)

Os cartões de Abel Ferreira, ano a ano

  • 2020: 5 cartões (4 amarelos, 1 vermelho)
  • 2021: 16 cartões (14 amarelos, 2 vermelhos)
  • 2022: 17 cartões (15 amarelos, 2 vermelhos)
  • 2023: 13 cartões (10 amarelos, 3 vermelhos)

Próximos jogos do Palmeiras:

Abel Ferreira recebeu no clássico entre Palmeiras e São Paulo seu 51º cartão desde que chegou ao Brasil. O amarelo pela discussão com o atacante Jonathan Calleri, porém, deveria ter sido vermelho na avaliação da Comissão de Arbitragem da CBF, o que poderia ter feito o português chegar a nove expulsões em menos de três anos no país.

O alto número de advertências levanta um debate constante sobre o treinador multicampeão: ele é “perseguido”, como o próprio clube alviverde já defendeu em algumas ocasiões, ou merece, de fato, ser repetidamente punido pelos árbitros por mau comportamento?

Para tentar responder a essa pergunta, a reportagem da ESPN ouviu árbitros de diferentes níveis do futebol nacional, de juízes centrais com escudo Fifa a assistentes que costumam acompanhar os jogos bem próximos de Abel. Eles já entram em campo com alguma predisposição contra o português ou aplicam a regra como fariam com qualquer outro?

Não houve uma resposta unânime entre aqueles que toparam se manifestar sob condição de anonimato. Abel foi, sim, duramente criticado por alguns dos árbitros ouvidos, com adjetivos pouco amistosos (“desequilibrado”, “dissimulado”, “cínico”…); mas também foi defendido e elogiado. Para esse segundo grupo, é questão de “saber conduzir”.

Abel é ‘perseguido’ pela arbitragem?

O primeiro cartão que Abel recebeu no Brasil foi também sua primeira expulsão: em novembro de 2020, em partida do Campeonato Brasileiro contra o Ceará, no Allianz Parque, ele recebeu o vermelho de Bráulio da Silva Machado por, segundo a súmula, ter dito: “vá se f…, vá tomar no c…, vem ver que não foi nada”, após pênalti marcado contra o Palmeiras.

Em sua entrevista coletiva pós-jogo, o treinador, então recém-chegado, acusou Bráulio de “arrogância e prepotência”. Curiosamente, mais de dois anos depois, essas foram palavras que foram usadas por dois árbitros para definir Abel à beira de campo.

Para além dos adjetivos, Abel também foi descrito pelos profissionais do apito como “difícil de trabalhar”, justamente pela recorrência com que contesta decisões em campo. Houve menção a um cartão recebido por reclamar de um lateral sem importância durante o jogo.

Embora declarações como essas tenham se repetido nas conversas com a reportagem, um outro fato foi apontado como principal para explicar o elevado número de cartões: a orientação da CBF de tolerância zero com as reclamações em 2023 – no Brasileirão deste ano, Abel já recebeu quatro amarelos e um vermelho e também foi advertido uma vez na Copa do Brasil.

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Vale ressaltar, porém, que não foram apenas brasileiros que deram cartões para Abel no comando do Palmeiras. Em 2022, ele recebeu, por exemplo, amarelo na final do Mundial de Clubes, contra o Chelsea, mostrado pelo australiano Chris Beath; e já foi expulso pelo venezuelano Jesus Valenzuela, na CONMEBOL Recopa, contra o Athletico-PR.

histórico de expulsões também o acompanha desde Portugal, como mostrou a ESPN, com direito até a discussão a beira de campo com jogadores – com Fabio Coentrão, ex-Real Madrid e então no Sporting.

No Brasil, porém, 2023 já é o ano em que Abel mais acumulou expulsões, com três – contra duas em 2022 e também 2021 e uma em 2020. Um auxiliar, inclusive, disse que nunca havia se incomodado com os “rompantes” do português, mas, com a nova orientação, é mais rigoroso nas comunicações com os árbitros sobre mau comportamento à beira de campo.

Árbitros gostam de Abel Ferreira?

Até quem elogia Abel reconhece que a fama que o treinador construiu publicamente, de estar constantemente reclamando à beira de campo, o prejudica. Os depoimentos colhidos pela reportagem dão conta que é difícil não entrar para uma partida “preparado” para o comportamento do palmeirense.

A grande questão é o que acontece quando a bola rola. Uma das pessoas ouvidas, por exemplo, garante: está tudo “zerado”. Se Abel age dentro das regras, não há problemas; se sai, deve ser advertido.

Após o entrevero com Calleri, inclusive, Abel definiu que demonstrou no clássico suas duas versões, a de uma pessoa extremamente competitiva, a ponto de “peitar” um atleta rival; mas depois, ao apito final, fica tudo em campo – o português saiu abraçado com o argentino.

Um dos assistentes ouvidos pela reportagem concorda exatamente com essa autoanálise. Em suas palavras, Abel é um técnico que, como outros, quer ganhar, sofre cobrança e está sempre atrás do resultado. “Questiona, fica bravo, mas faz parte, temos que saber controlar”, disse.

O que incomoda em árbitros sobre Abel?

Algo dito pelos árbitros, que acaba pesando contra Abel na relação com os homens do apito, é que seu estilo “contestador”, muitas vezes, passa a ideia de uma tentativa de transferir responsabilidade. Se o Palmeiras não vai bem, é porque foi prejudicado em alguma decisão da arbitragem.

E não é só Abel que foi criticado por alguns dos que aceitaram falar com a ESPN. Um deles criticou também a comissão técnica do treinador, definida como “mala” em suas palavras.

Em Palmeiras x São Paulo, por exemplo, após Abel receber cartão amarelo pelo problema com Calleri, um de seus auxiliares, João Martins, também foi advertido por reclamação.

(* Colaboraram Carlos Eugênio Simon, Leonardo Gaciba e Renata Ruel)

Os cartões de Abel Ferreira, ano a ano

  • 2020: 5 cartões (4 amarelos, 1 vermelho)
  • 2021: 16 cartões (14 amarelos, 2 vermelhos)
  • 2022: 17 cartões (15 amarelos, 2 vermelhos)
  • 2023: 13 cartões (10 amarelos, 3 vermelhos)

Próximos jogos do Palmeiras:

  • Bahia – 21/06, 21h30 (de Brasília) – Brasileirão
  • Botafogo – 25/06, 16h (de Brasília) – Brasileirão
  • Bolívar-BOL (C) – 29/6, 21h – CONMEBOL Libertadores

(ESPN)