Em Cabrobó, Márcio Vitor, comenta apresentação histórica, fala sobre os 20 do Psirico, racismo e mensagem na letra de “A Tropa Avança”, cantor diz que ainda se sente um pivete

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Completando 20 anos de carreira, a banda Psirico foi uma das principais atrações do aniversário de 94 anos de emancipação político-administrativa de Cabrobó. A apresentação da última segunda-feira (12), foi a primeira vez para a banda – que nunca havia se apresentado na terra cebola e para a cidade, que nunca havia promovido um show musical de uma atração desfilando em Trio Elétrico pelas ruas da cidade.

Contratados pela Prefeitura Municipal de Cabrobó, os músicos ficaram encantados com a multidão que ocupou a Avenida João Pires da Silva, para dançar, pular e seguir atrás do trio ao som dos grandes sucessos do Psi.

Após a apresentação o cantor Márcio Vitor, conversou comigo e bem à vontade falou da experiência histórica de tocar em Cabrobó, carreira, racismo, homofobia, personalidade, a mensagem trazida por algumas letras e até a coleção de bonés, rolou até uma sugestão de aumento que eu fiz questão de não cortar da entrevista rsrsrs.

Foto: Nossa Voz – Marcio Vitor e Mario Souza no Camarim em Cabrobó

Confira ;

Mario Souza – O Psi celebra uma marca histórica, 20 anos, com o trabalho “Psi Universal”. Como vocês estão curtindo esse momento especial? Vocês tão fazendo muita coisa e vivendo muitas coisas explica qual é o sentimento.

Márcio Vitor – Mario tava querendo muito falar com você… Então, toquei no aniversário de Iza ai depois já tava fazendo show na minha Bahia, hoje já estou aqui. Para mim é um dos melhores momentos da minha carreira. Nós tivemos uma grande ascensão com o “Lepo-Lepo”, na verdade Mulher Brasileira “Toda Boa” já tinha projetado a banda, mas aí veio o Lepo Lepo e nós conhecemos o mundo inteiro, o mundo conheceu a banda. Manter isso para mim – o que não é fácil, é muito gostoso. E o povo é que faz tudo isso acontecer. Acredito que o Psi tem uma identidade com a música que o povo quer ouvir. As letras da gente são para família, são para todo mundo, onde a gente exalta a mulher brasileira, onde trazemos o respeito pela mulher. Não aceitamos nenhum tipo de discriminação, de preconceito, nenhum tipo de racismo. Isso tudo nas letras e na batida percussiva, que é o nosso grande diferencial. Começamos com esse ritmo lá em 2000 e hoje vemos essa batida em todos os principais estilos de música. No sertanejo tem essa pegada, do arrocha tem essa pegada.

Mario Souza – Foi a primeira vez da banda em Cabrobó, mas foi também a primeira vez que a cidade teve uma festa com uma atração da música baiana em cima de um trio elétrico. Como você sentiu a energia do público e o que isso representou para vocês ?

Márcio Vitor – Vou ser sincero! No começo eu achei que a galera ia ficar todo mundo meio tenso assim… que a galera não dançaria. Achei que a galera ia ficar… Ai meu Deus, o que essa banda tá fazendo aqui? Mas quando eu comecei e fiz ‘oi, oi’ no microfone e a galera gritou aaaaaaaaa. Aí eu já senti aquele friozinho, aquela sensação do carnaval de Salvador de ver o pessoal na rua dançando.

A galera mais jovem veio com força. Eles já me marcaram no Tic-Tok, no Instagram, pediram para tocar as músicas e eu comecei cantando o que eles estavam pedindo. Então eu senti logo essa energia. Eu achei que nessa atitude do prefeito Galego de Nanai foi muito inteligente, ele foi muito esperto em fazer, porque todas as cidades tem festa aqui e porque não fazer aqui ? Então ele já trouxe o Psirico que uma banda que o povo gosta e eu pensei; Meu Deus isso aqui tem que ter toda semana nessa cidade, porque o povo está preparadíssimo para isso. E detalhe…não teve uma confusão, não teve uma briga, nenhum desentendimento. O povo tá de parabéns, eu to muito encantado com a cidade e quero voltar aqui o mais rápido.

Mario Souza – Na letra da música a Tropa Avança você diz ; “Fui abençoado, não foi sorte , foi a minha correria. Vão dizer que é impossível, mas eu tenho fé e sou invencível” isso traduz muito você, uma pessoa que tem sua religiosidade, sua fé. Essa letra conta sua história, seu caminho até aqui?

Márcio Vitor – Obrigado por perguntar isso. Ainda bem que a gente tem você para gente passar essa mensagem pro povo. Como eu falei no começo, o Psi traz nas suas letras a realidade do que o povo passa e do que o povo sente. Eu sou Márcio Vitor, eu sou um cara do povo. Quando você olha para um taxista, pro marceneiro, pro feirante, por delegado, por policial, por gerente, por soldado, você me vê. Quando você olha pra mulher gorda, pro homem preto, pros gays, você me vê também. Porque eu estou lutando para levar essa mensagem, quando a gente diz eu não desisto eu tenho fé que eu sou invencível. Sou eu é você é o brasileiro, porque a gente não desiste. Tá acontecendo tanta coisa no Brasil nesse momento; Divisões políticas, racismo – isso virou uma moda que a gente não aguenta mais. O Brasil é um país em que a gente ouve mais notícias de feminicídio, mais notícias de gente homofóbica. Nós estamos no século…quase século 30 e lá vai fumaça e ainda falamos de assuntos e de coisas… que eu acho que a minha música quando toca nesses assuntos e as pessoas se identificam, isso traz uma certa paz para as pessoas. É sobre isso que quero falar das minhas músicas, não só descer até o chão e de senta, senta. Nós gostamos disso e vemos que o povo se diverte com isso, mas é importante algumas músicas deixarem uma mensagem. É o que eu digo; Seja forte, não desista, vai ter muita gente que vai dizer que você nunca vai conseguir, mas é ai que você pega essas pedras, fazer seu castelo. Ai você compra uma mansão e posta uma foto para essas pessoas que tiraram onde se… (risos).

Mario Souza – Você tem levantado muito essa bandeira do racismo. Falou sobre isso no programa Encontro da Rede Globo, onde você falou que ainda convive com isso, mesmo sendo artista, bem-sucedido, eu como homem negro passo por isso, queria que você falasse sobre como você se sente e sua opinião sobre como mudar essa realidade.

Márcio Vitor – É triste, tem pessoa que não aceita, há aquele deve ser o pior. As pessoas muitas vezes não vêm apenas como animal. Isso é triste, porque as pessoas que nos enxergam como animal, estão cometendo um grande erro, porque até os animais merecem amor e carinho e ser bem tratados. Agente é ser humano. A gente tem bunda, perna, cabeça, tronco, membro. Mas tem pessoas do mal que usam isso o racismo para diminuir você. Ou seja, eu acho que tem que ter mais pretos ocupando espaços. As pessoas brancas que entende e sofre com agente devem defender mais e abrir para trazer para as empresas, gerentes pretos , jornalistas pretos, para cargos e funções de mais responsabilidades, pessoas que pretas que estudam e tem competência para estar nesses espaços e não aceitam mais ser tratadas pela cor da pele. Eu estudei muito para chegar onde cheguei. Eu trabalho muito para chegar onde estou. Minha voz tá rouca… nós fizemos mais de 40 shows, aqui tem famílias que dependem desse dinheiro, gente que veio da periferia , que vinheram de baixo. Acredito que tem muita gente que ainda não nos aceita, mas vai ter que aceitar, porque estamos os pretos agente tá ocupando os espaços e as pessoas que não tem preconceito e não tem racismo estão convivendo melhor e estão se unindo, porque quem tem esse pensamento vai ficar fora. Já estão de fora. Eu estou num nível que às vezes acontece que quando eu venho no vôo de primeira classe, tem gente que vem me perguntar se eu estou realmente sentado ali. Isso é um tipo de racismo perverso, uma pessoa do mal que tá perguntando isso. Porque eu realmente trabalho para ter minhas coisas. Eu tendo uma certa fama, eu passo por isso. Imagine as pessoas que não tem isso, como deve ser difícil ! Acho que já tá hora de parar com isso. Foi aí que eu disse que se vier pra cima e me desrespeitar eu saio na porrada. É porque a gente não aguenta mais passar por coisas… que temos que tá provando que temos competência pra tá ali. Por isso que eu digo a meus irmãos “Não aceitem isso, vão em busca, estude, ocupe espaço. Assuma a presidência, a prefeitura, sejam deputados, ministros, médicos e não desistam por causa dessas pessoas que querem tirar o brilho da gente”.

Mario Souza – Aquele pivete, que com 13 anos tocava na Timbalada, imaginava chegar onde chegou hoje e o que Márcio Vitor pensa pros próximos 20 anos?

Márcio Vitor – Eta, ai você quer me quebrar, ai eu me emociono demais. Ah rapaz… aquele pivete ainda está aqui mano… Ele tá aqui… Hoje eu quero dividir mais minhas opiniões. Tem muita gente que diz que eu tenho um pensamento muito acelerado. Eu quero fazer com que todo meu povo venha nesse modo turbinado, acelerado. Para ocupar espaço para gente estar nos lugares. Mesmo com a gente ocupando espaço, dizem pra gente que é impossível. Você tem que dizer para ele que a Tropa Avança, que para derrubar vai dar trabalho, que não sou eu é Deus que escreveu o meu caminho. Tenho problemas direto com isso, mas eu vejo que eu sendo assim, eu acordo muitos dos meus. Eu quero isso para meu povo, eu quero passar alegria pra meu povo. Passamos pela pandemia, foram dois anos muito difíceis para mim, agente parente e tudo. E esse pivete Márcio Vitor, ele diz pra pessoas, que é muito mais importante a gente aproveitar o tempo da vida da gente com felicidade e alegria, do que a gente ficar o tempo todo em casa sentado esperando o tempo passar, falando da vida do outro, sendo mal. Porque o mal já começa no pensamento. Se você puder perder o tempo do seu dia para fazer o bem ao próximo. O que é fazer o bem ? Não é postar que tá ajudando não. È você ir lá na favela, levar comida para quem precisa, o frio tá aí dê agasalho pra quem precisa, a casa da gente tá cheia de roupa que a gente não usa mais, dá pra quem precisa. Acredita no sonho do próximo, transforme alguém que tá do seu lado em poderoso igual a você e você não tá sozinho nunca. A única coisa que eu mudei foi de lá para cá é que eu era magrinho e agora to mais enchendo mais …(risos).

Mario Souza – Num momento em que o público quer que artista seja mais que um cantor, o Rock In Rio, deixou esse exemplo, que o público quer uma troca de energia durante os shows. Que mensagem você deixa para cidade de Cabrobó que te recebeu tão bem? Você em 5 minutos já era cabroboense?

Márcio Vitor – Quero me sentir daqui, quero me sentir desse povo, quero defender também os interesses daquele que mais precisa. Quero que a minha música, a minha voz seja a voz desse povo, quero voltar o mais rápido pra fazer shows para estar com eles. Já tem muita gente daqui que me segue nas redes sociais. Quero que vocês sigam unidos, felizes e que nenhuma tristeza chegue até aqui. E mais um pedido especial! Por favor! Cuidem desse radialista, desse cara maravilhoso, de Mario. E da próxima vez que eu voltar aqui, eu quero ver um programa de televisão seu, quero você lá em cima, porque assim você estando bem, eu vou estar bem também. Tamo junto Marão!

Mario Souza – Só uma última pergunta. Ouvi dizer que você tinha mil bonés, mas agora só tem 999 porque um você vai deixar comigo (risos). Mas é sério que você tem todos esses bonés ?

Márcio Vitor – (Risos). Eu acho que tenho até mais de mil. Eu dei esse número assim, mas acho que tem bem mais. São muitos bonés que eu compro e muitos que eu ganho. Minha mãe pergunta se você gasta seu dinheiro com boné rapaz? Eu amo boné, sapato… mas eu vou deixar um pra você e da próxima vez que eu vier aqui vamos fazer promoção para sortear um boné pra galera.

Mario Souza – Parabéns pela carreira, pelos 20 anos de carreira e por ser gentil comigo

Márcio Vitor – Amei falar com você, amei mesmo. Olha, deem um aumento para esse cara se não vou levar ele para Salvador de volta. Valeu Marão, tamo junto