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Fábio Santos não descarta jogar mais um ano pelo Corinthians e revela esporros e resenhas de Luxa

Lateral-esquerdo celebra 350 jogos pelo Timão, cita pedidos da família por aposentadoria, mas admite chance de prolongar carreira: “Em novembro a gente vê o que acontece”


Fábio Santos segue colecionando marcas, amigos e boas histórias no futebol. Aos 37 anos – ele completa 38 em setembro – o lateral-esquerdo acaba de chegar aos 350 jogos pelo Corinthians e ainda não decidiu se irá pendurar as chuteiras ao final do ano, quando acaba o contrato dele.

Em 2023, Fábio Santos voltou a entrar em um rodízio na equipe titular, mas atuou em mais de dois terços dos jogos do Corinthians na temporada: esteve em 31 dos 41 confrontos.

A temporada tem sido de desafios para o lateral-esquerdo, que acredita ter a obrigação não apenas de jogar bem, mas também de orientar e proteger os jovens do elenco. O ano também ficou marcado pela realização de um antigo desejo do veterano: ser comandado por Vanderlei Luxemburgo.

– Falo para ele que não poderia encerrar a carreira sem ter trabalhado com ele – contou Fábio Santos, ao ge.

– Foi um dos principais treinadores que existiram no país, um cara muito bom de conversar, a gente brinca que na garganta, na resenha, ele é um dos caras mais engraçados. Se deixar ele falar, te enrola fácil.


Fábio Santos revela esporros e resenhas com Luxemburgo: “Se deixar falar, te enrola fácil”

Nessa entrevista exclusiva, o lateral-esquerdo falou sobre os métodos de trabalho de Luxa e os esporros e carinhos dados por ele, especialmente para os atletas mais jovens.

Fábio Santos também comentou a temporada corintiana, a possível transferência do amigo Róger Guedes e os planos dele para o futuro e muito mais. Confira!

Você já trabalhou com dezenas de técnicos ao longo da carreira. Como tem sido esse período com o Luxemburgo? É um técnico que dá abertura para o diálogo, que ouve os jogadores?
– É um cara muito simples de se lidar. Como você falou, todo treinador que chega leva um tempo para conhecer todos os jogadores, não só dentro de campo, mas também fora. Levo muito em consideração esse dia a dia até porque faz toda a diferença. Até mais o convívio do que a parte do treinamento, e temos uma relação clara e aberta.

– É um cara bacana que tem sido importante nesse momento de reconstrução dentro da temporada, a gente espera terminar de uma maneira bacana, quem sabe com um título, porque é um cara que abraçou a causa em um momento complicado e tem dado tudo de si para que as coisas evoluam.

Luxemburgo é um técnico que está na elite do futebol brasileiro há três décadas. No dia a dia, o que tem de “velha guarda” no trabalho dele e o que você sente que ele conseguiu se adaptar aos tempos modernos?
 Aquele papo de que jogador é tudo igual é mentira. Mudou muito. A nova geração é totalmente diferente daquela em que eu cresci. Hoje bem mais responsáveis, bem mais profissionais. Naquela época, se trabalhava de outra maneira.

– O Luxemburgo tem uma mania muito bacana de acertar o time nos dedos. Ele faz o movimento: “faz a linha de três”. Muitas vezes os meninos não entendem isso porque são crescidos de uma forma diferente. Estão acostumados com vídeo, prancheta. O Luxemburgo gosta mais de mostrar com os dedos. Nós, da velha guarda, entendemos, explicamos e vamos acertando. A gente até brinca com isso, e até penso que às vezes precisamos mostrar mais isso para eles, ser mais teórico mesmo. Não dá para ser feito dessa forma que a gente entende.https://30c941efbc5b1e7d0af7bf591faf1f9f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

– O Luxemburgo era muito conhecido por dar esporro em todo mundo, ele não perdeu isso, mas ele dá o esporro no menino e você vê que dez segundos depois ele já quer dar um carinho.

– Realmente, é uma nova geração, é diferente. Cresci na base do esporro e se você ficasse bravo era afastado e ninguém estava nem aí. Hoje, você tem que dar carinho para o moleque, senão você não vai conseguir extrair o que ele pode te dar de melhor. É bacana ver todas essas fases e entender isso. Gosto bastante de me relacionar com as pessoas, entender o que passa na cabeça delas, e isso é algo que noto que mudou muito de uma geração para outra.

Nós não temos mais acessos aos esporros que ele dá nos treinos, mas pelos vídeos das preleções dá para perceber que ele continua com aquele estilo enérgico, gritando e incentivando no vestiário.
– Isso é sensacional. Se dentro do campo ele sempre foi bom, sempre foi diferente, nessa parte motivacional é, sem sombra de dúvida, o ponto forte dele. É o momento em que ele expressa as emoções, não me pegou de surpresa porque eu já conhecia bastante a história dele, mas todo mundo fica muito animado com as palestras dele.

“Ditado do filósofo Luxemburgo”: com palavrão, técnico arranca risos em vestiário do Corin

Você acaba de completar 350 jogos pelo Corinthians. O que representa essa marca?
 É um feito gigantesco para falar a verdade, nunca imaginei que completaria um número de jogos tão grande em uma equipe, principalmente em um clube do tamanho do Corinthians. Sei o quanto é complicado, a pressão de se manter em alto nível por tanto tempo, não só manter, mas também jogando todo esse período. É um número muito significativo para mim, que vou guardar com muito orgulho. Estou prestes a completar 850 jogos na carreira, são números importantes em uma carreira que está sendo bem vivida, bem jogada. Tenho muito orgulho.https://30c941efbc5b1e7d0af7bf591faf1f9f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Como está sendo essa temporada em especial? E o como está sendo a experiência do retorno do revezamento que era feito pelo Vítor Pereira e voltou a ser adotado pelo Luxemburgo?
– Para nós é um pouco mais difícil aceitar isso. Estamos acostumados a jogar a vida inteira e quando te começam a podar de algumas coisas, você mesmo sabendo que é importante aquilo fica meio ansioso. Você fala: “não, não, eu consigo”. Aconteceu isso no ano passado com o Vítor e, graças a Deus, deu muito certo, consegui manter um alto nível, números bons de partidas e sem deixar de treinar, sempre à disposição em todos os treinos e jogos. Realmente, isso te guarda e te faz chegar mais limpo nas partidas. É óbvio que tem um momento em que você terá que fazer jogos em sequência pela pressão, pelo momento do clube, pela importância dos jogos, mas sem sombra de dúvidas esse revezamento me ajudou muito.

Você tem tomado cuidados diferentes de um tempo para cá?
– Para falar a verdade, acho que isso é muito de genética. Sempre fui um cara privilegiado fisicamente, desde muito novo. Óbvio que você acaba tomando alguns cuidados, ouvindo mais os profissionais, hoje em dia existem mais profissionais na fisiologia, na nutrição, na parte física que te ajudam nesse sentido. Pô, eu fui começar a fazer academia mais regularmente com 29 anos para 30 anos. Se eu soubesse o quanto é importante esse trabalho, como os meninos fazem hoje com 20 anos, de repente conseguiria aumentar ainda mais esses meus números. Mas, era o que se dava para fazer naquela época, era o que se fazia naquela época.https://30c941efbc5b1e7d0af7bf591faf1f9f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

– Praticamente, faço o que todo o grupo faz, não tenho nenhum trabalho individualizado, mas conheço muito bem meu corpo. Sei o dia que posso treinar mais forte, o dia que posso fazer só uma academia. A experiência te traz isso. Meus números mostram isso, são números que vocês (torcida e imprensa) acabam não tendo acesso, mas mostram que em volume, intensidade e total de distância percorrida estou sempre bem. Isso me deixa muito satisfeito e contente com o trabalho que vem sendo feito no dia a dia.

Fábio Santos completou 350 jogos pelo Corinthians — Foto: Rodrigo Coca / Ag.Corinthians

Fábio Santos completou 350 jogos pelo Corinthians — Foto: Rodrigo Coca / Ag.Corinthians

Como seu corpo tem respondido à maratona de jogos do Corinthians nessa temporada?
– Aqui tem umas coisas a mais, não é? (risos). Aqui no Corinthians tem o desgaste mental, o desgaste aqui é muito maior do que em qualquer outra equipe. Isso, sem sombra de dúvidas, foi uma das maiores dificuldades desse ano, não só o desgaste físico. Isso te cansa bastante. Teve as mudanças também. Tivemos dois preparadores físicos, três ou quatro comissões durante o ano, o treinamento e metodologia de trabalho são muito diferentes uma da outra e você precisa ir se adaptando no meio do caminho.

– O corpo sente tudo isso, não é fácil. A questão da recuperação é mais ou menos isso, no dia seguinte você está cansado, as 48 horas seguintes são sempre mais complicadas, e nisso você já tem que se aprontar para o outro jogo. Então, vamos sempre conversando, já tinha trabalhado com o Daniel, preparador físico, no Galo e isso estreita a relação, nos conhecemos bem e estamos sempre conversando. Queremos sempre chegar bem nos jogos.

O fato de estar conseguindo jogar com certa regularidade e sem lesões faz com que você pense em alongar a carreira? A decisão de se aposentar ou jogar mais um ano já está tomada?
 Na verdade, não. A princípio, como eu já tinha falado algumas vezes, tinha me preparado para parar ao final do ano. Desde o começo do ano digo que gostaria de desfrutar de todos os momentos, conseguir deixar alguma coisa importante, e quero aproveitar esses últimos momentos da melhor forma possível. Lá em novembro tomo a minha decisão final, vou ver se paro realmente ou se jogo mais um pouco. Tudo muito tranquilo e sereno para tomar a melhor decisão consciente daquilo que estou fazendo e não trabalhar na base da emoção.

Pelo que eu entendo, você está curtindo a temporada como se fosse a última, mas se chegar lá no fim do ano e você estiver se sentindo bem para tomar a decisão de continuar nada te impede. É isso?
– Exatamente. Tem muita coisa envolvida, já falei algumas vezes gostaria de encerrar a minha carreira no Corinthians. É um ano político, um ano complicado no clube, tem pedido de família também, já corri bastante esse mundão afora, e agora é curtir um pouco mais os filhos, os pais. Enfim, vamos ver. Lá em novembro a gente vê o que acontece.

Aposentadoria? Fábio Santos fala sobre planos para a carreira

Renato Augusto e Paulinho já fizeram cursos para iniciarem essa transição de carreira. Você está pensando em estudar algo para ter uma nova função no futebol depois que se aposentar?
– Pensei em algum momento no passado em começar algum curso técnico. Sou um cara que deixo muita coisa dentro do clube, passo quase que praticamente o dia inteiro dentro do clube, não consigo conciliar duas coisas. Quero viver isso aqui intensamente até o último dia para depois, quando eu parar, com tempo, focar nas possibilidades que vão aparecer. Seja na área técnica, na área da comunicação, na área da gestão. Aí sim vou focar em algo para que eu possa estudar e me preparar melhor. A partir do momento em que eu oficializar a minha aposentadoria vejo qual caminho seguirei.

O Corinthians viveu uma montanha-russa de emoções nessa temporada. Protestos, trocas de técnicos, classificações históricas… Já está acostumado com essa loucura que é o clube ou ainda te surpreende?
– Sem sombra de dúvidas, surpreende demais. Não digo numa parte positiva porque muitas delas foram negativas. A gente nunca gosta de passar por momentos como esses, e quanto mais experiente você acaba assumindo algumas outras responsabilidades. Principalmente no nosso grupo onde a diferença de idade é muito grande, são meninos e jogadores experientes, não temos tantos jogadores nesse meio termo e acabamos assumindo responsabilidades para deixar a garotada subir e entender como funciona o profissional.

– Precisamos cuidar dos meninos, cuidar do dia a dia, sabemos das nossas responsabilidades, e no final, claro, temos que performar. Obviamente, é tudo muito complicado, mas temos sabido levar de uma forma bacana, dividindo entre os mais experientes essa pressão para não sobrecarregar um ou outro.

Como funciona essa blindagem aos mais jovens? É uma ação externa dando a cara nas entrevistas, falando com os torcedores ou é uma ação interna de chegar, conversar e explicar isso aos garotos?
– Acho que tudo. Você fez a leitura exata. Tem a parte do torcedor, tem a parte da imprensa, e o dia a dia. O dia a dia acaba sendo mais desgastante porque aqui não é um lugar normal: você tem que subir e performar porque as pessoas cobram isso de você. Apesar que aqui se tem um pouco mais de paciência com os meninos até pelo momento.

– A gente faz com que eles entendam o mais rápido possível, tentar tirar um pouco a pressão do Luxemburgo ter que fazer com que 15 meninos entendam as coisas mais rápido. Acho que isso é formar um grupo forte, sabe? Todo mundo tem que se ajudar e é isso que fazemos no dia a dia, ajudar para que eles possam evoluir o mais rápido possível. Não só para que eles possam entregar nessa temporada, mas também para que eles possam levar para a carreira deles e sejam bem-sucedidos. Esse é o maior legado que podemos deixar nessa temporada.

Fábio Santos orienta o Corinthians em partida contra o Atlético-MG — Foto: Rodrigo Coca / Ag.Corinthians

Fábio Santos orienta o Corinthians em partida contra o Atlético-MG — Foto: Rodrigo Coca / Ag.Corinthians

Como é a sua relação com o Matheus Bidu?
– Todos os jogadores com quem eu “competia” pela minha posição sempre me dei super bem. Foi assim ano passado com o Piton e esse ano com o Bidu. Ele é um menino que quer aprender, assim com o Piton ele não fez a base na posição, tem muita coisa a ser evoluída por assim dizer.

– No Brasil, lateral é visto de uma forma diferente. Gostamos do lateral que joga como ponta e não é assim que funciona. Até para ele crescer, quem sabe um dia jogar na Europa, e hoje se cobra taticamente muito mais dos laterais, o que eu posso ajudar na questão de posicionamento, dessa parte mais tática porque na parte técnica ele é muito bom, tenho conversado bastante com ele. Espero que possa escutar, aprender e lá na frente eu possa ficar orgulhoso que valeu a pena ter ajudado um pouquinho a crescer na posição.

Quando o Róger Guedes chegou ao Corinthians muito se falou da sua importância nos bastidores para concretizar a vinda dele. Agora, fala-se da possibilidade de uma saída com o interesse da Arábia Saudita no futebol dele. A torcida pode contar com uma forcinha sua para tentar segurar o amigo aqui?
– Vou falar do fundo do meu coração que realmente não sei se chegou alguma coisa ou não, mas acharia estranho não chegar pela temporada que ele vem fazendo. Isso é uma questão muito pessoal, não dá para se envolver, isso ele tem que conversar com a família e com os empresários dele. É óbvio que se ele pedir a minha opinião posso dá-la. Vou mentir em algum momento, obviamente (risos). Mas vou deixar isso para que ele resolva de cabeça fria. A gente sabe da importância do Róger dentro do elenco, é um dos principais jogadores, e eu torço para ele ficar para brigarmos por títulos. É um cara que ajuda bastante, mas acredito que ele saberá refletir e escolher o melhor para ele e para a família.

(GE)