Baixas temperaturas na região atingida pelo tremor intensificam necessidade urgente de ajuda humanitária para os milhares de feridos e desabrigados e dificultam os esforços de resgate
Equipes de emergência e voluntários tentam resgatar sobreviventes dos escombros de um prédio em Kahramanmaras, na Turquia ADEM ALTAN/AFP
A destruição causada pelos fortes tremores que atingiram a Turquia e a Síria no início desta semana não são os únicos desafios enfrentados pelas vítimas da tragédia e pelos governos locais. A fome, o frio intenso do inverno e a falta de abrigo estão entre as dificuldades com as quais os sobreviventes do terremoto de 7,8 de magnitude, que deixou mais de 12 mil mortos, precisam lidar.
As estradas danificadas tornaram mais difícil o transporte até regiões isoladas do país, que também sofreram com o abalo sísmico. Nessas áreas rurais, muitos sobreviventes ficaram sem abrigo e precisaram dormir ao relento, segundo a BBC.
Na cidade de Gaziantep, que ficou conhecida nos últimos dias após imagens do desabamento de um castelo milenar começarem a circular nas redes, há relatos de sobreviventes passando a noite em abrigos improvisados, segundo a Al Jazeera. No clima frio, os turcos montaram tendas improvisadas na rua ou em bancos de parques. Alguns poucos conseguiram ainda um espaço nas raras lojas abertas em meio ao caos do pós-terremoto. Outros deixaram a cidade em ônibus e carros, já que o aeroporto encontra-se fechado.
Imagens da destruição causada por terremoto que atingiu Turquia e Síria
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Centenas de pessoas morreram após tremor de magnitude 7,8
Em uma das outras cidades atingidas pelos tremores, Sanliurfa, os sobreviventes foram alojados no imponente andar térreo do Hotel Hilton. No início da terça-feira, a maioria dos pais reunidos com seus filhos não pregou o olho.
— Chegamos aqui às 15h de ontem [segunda], o hotel nos deu sopa à noite, mas a noite já passou. Estamos com fome e as crianças também — disse Imam Caglar, de 42 anos. — As padarias estarão fechadas hoje, não sei como vamos encontrar pão — acrescentou o pai de três filhos.
Está fora de cogitação ir buscar comida em seu apartamento, localizado a algumas ruas de distância, por causa do perigo de o prédio desmoronar repentinamente.
— Moramos no primeiro de três andares, estamos com muito medo de voltar — diz ele, balançando a cabeça. — Nosso prédio não é nada seguro.
Os problemas enfrentados pelos sobreviventes foram reconhecidos pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que visitou duas províncias atingidas pelos tremores nesta quarta-feira. Em Hatay, Erdogan admitiu as “deficiências” nos esforços de resgate, mas fez a ressalva de que “é impossível estar preparado para uma catástrofe dessas”.
— Sobrevivemos ao terremoto, mas aqui morreremos de fome ou frio — disse um homem de Hatay a emissora britânica BBC.
Veja fotos dos enterros coletivos das vítimas do terremoto na Turquia
Tragédia deixou milhares de mortos
‘Nada além de cobertores’
O governo turco está lutando para abrigar as pessoas forçadas a ir para a rua depois que suas casas desabaram ou ofereciam muitos riscos para permanecer por causa dos tremores secundários.
Centenas de milhares pernoitaram em dormitórios, escolas, mesquitas e outros edifícios públicos, enquanto outros se abrigaram em hotéis que abriram as portas gratuitamente. Fornecê-los com alimentos e outras ajudas básicas tem sido um desafio.
Uma tempestade de inverno deixou as estradas da região, algumas delas bastante danificadas pelos tremores, quase intransitáveis. Muitos aeroportos locais estão fechados, e suas pistas precisam de reparos.
— Tomamos uma pequena tigela de sopa, isso não é suficiente — diz Mehmet Cilde, 56, pai de seis filhos.
A situação é ainda mais terrível para Filiz Cifci. Ela perdeu a distribuição de sopa na noite de segunda-feira, mais adiante na rua do hotel Hilton.
Cifci e seus três filhos, que fugiram de casa antes do amanhecer de segunda-feira com apenas três cobertores e telefones, preferiram pular uma refeição do que esperar no vento e na chuva fria.
— Só tomamos chá e café à noite, nada mais — disse ela, de lenço na cabeça e túnica roxa, sentada perto do banheiro do hotel, onde as famílias pegam água potável. — Por enquanto, não temos nada além de nossos cobertores.
(O Globo)