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Governo não tem plano claro para retirar garimpeiros de terra indígena

Planalto cogitou intervenção federal para afastar governador de Roraima, onde Bolsonaro teve 76% dos votos

Lula acompanha a situação dos Yanomami, povo que vive grave crise sanitária.

Lula acompanha a situação dos Yanomami, povo que vive grave crise sanitária. Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula prometeu “parar com a brincadeira” e varrer os garimpeiros das terras indígenas. “Se vai demorar um dia ou dois, eu não sei”, disse, na segunda-feira. “Pode demorar um pouco, mas nós vamos tirá-los”, assegurou.

No fim de janeiro, Lula voou para Boa Vista acompanhado de sete ministros. Visitou abrigos, deu entrevista, assinou um decreto e declarou emergência em saúde. As medidas permitiram o início do socorro aos ianomâmis, vítimas da fome e de doenças ligadas à contaminação dos rios. A desocupação do território é um desafio mais complexo, que está longe de se resolver em um dia ou dois.

O governo sabe que terá dificuldade para retirar ao menos 20 mil garimpeiros da região. A atividade clandestina está por trás de boa parte da economia de Roraima. Tem amplo apoio no empresariado e no meio político. Isso ajuda a explicar por que o estado se tornou uma cidadela do bolsonarismo. Incentivador do garimpo, o capitão recebeu 76% dos votos dos roraimenses, seu melhor desempenho em todo o país.

O governador Antonio Denarium, reeleito em outubro, é outro entusiasta da corrida ao ouro. Já liberou o uso de mercúrio nos rios e proibiu a destruição de equipamentos usados por garimpeiros. As duas medidas foram derrubadas pelo Supremo. Na última semana, o Planalto debateu a hipótese de uma intervenção federal para afastá-lo. A ideia foi descartada porque ninguém saberia ao certo o que fazer no dia seguinte.

Um ministro que participou da discussão admite que ainda falta um plano claro para além da proibição do tráfego aéreo. Um dos problemas é a presença de indígenas nos acampamentos. O Planalto foi informado de que milhares foram cooptados para atuar na atividade ilegal. Na hipótese de confronto armado, poderiam ser recrutados para defender os invasores.

Também há incerteza sobre o comportamento das Forças Armadas. Na segunda, o ministro Luís Roberto Barroso determinou que o Ministério Público Militar ajude a apurar a participação de autoridades em crimes de genocídio e desobediência durante o governo Bolsonaro. A decisão reforça os sinais de que parte do Exército atuou como braço forte e mão amiga do garimpo.

O capitão não era o único a se lixar para os ianomâmis. O general Hamilton Mourão, agora senador, ainda endossa o discurso bolsonarista que menospreza o modo de vida dos povos originários. “Você acha que índio quer viver o resto da vida enfurnado no meio da floresta? Índio quer celular, índio quer caminhonete”, provocou nesta quinta, em entrevista à Rádio Gaúcha. Ele chefiava o Conselho da Amazônia enquanto o garimpo poluía os rios e se alastrava pela floresta.

Socialismo de resultados

O PSB anunciou na terça-feira a filiação do senador Chico Rodrigues. Em 2020, ele se notabilizou ao ser alvo de uma operação contra desvios na saúde. Apavorado com a chegada da polícia, tentou esconder dinheiro entre as nádegas.

O senador de Roraima é mais um entusiasta do garimpo em terras indígenas. Em vídeo gravado na Raposa Serra do Sol, referiu-se à atividade ilegal como “um trabalho fabuloso”.

Rodrigues se elegeu pelo DEM e foi vice-líder do governo Bolsonaro. Os motivos de sua conversão ao socialismo ainda não foram esclarecidos. Os motivos do PSB para acolhê-lo, menos ainda.

O Globo