Ídolo no Brasil, técnico do Olimpia já teve jogo adiado com o Fluminense por motivo trágico

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Arce perdeu filho em acidente de carro na época em que comandava o Cerro Porteño; ex-lateral conquistou Libertadores por Grêmio e Palmeiras na década de 90 e foi eleito sete vezes para o time da América


Na área técnica ao lado da de Diniz estará um treinador paraguaio que conhece como poucos os gramados brasileiros. Francisco Arce fez história no futebol do país ao atuar por Grêmio e Palmeiras entre 1995 e 2002, quando conquistou duas Libertadores sob o comando de Felipão. O ex-lateral-direito era um exímio cobrador de faltas e já enfrentou o Fluminense algumas vezes na carreira, mas também tem o clube tricolor marcado em um evento trágico na vida dele.

Em julho de 2021, Fluminense e Cerro Porteño se enfrentariam pela partida de volta das oitavas de final da Libertadores, no Rio de Janeiro, mas a partida foi adiada. O motivo foi o acidente de carro que matou o filho de Arce, Alexsandro Javier, aos 20 anos. O jovem não resistiu aos ferimentos após o grave acidente e morreu no local, segundo a imprensa paraguaia. A tragédia aconteceu no domingo e fez a Conmebol adiar para 3 de agosto a partida prevista para dali a 48 horas.

Na ocasião, o clube paraguaio agradeceu a compreensão da equipe carioca, o jogo foi realizado no Maracanã duas semanas depois e culminou com o Fluminense passando para as quartas de final.

“O Club Cerro Porteño comunica que, com relação ao adiamento da partida entre Fluminense e Cerro Porteño, pelas oitavas de final da Libertadores 2021, reconhece a Conmebol e em especial o Fluminense pelo gesto de cavalheirismo, colocando o lado humano à frente da competição, aceitando à solicitação de adiar o encontro, entendendo e respeitando ao momento de dor de nosso treinador, o professor Francisco “Chiqui” Arce”.

O Arce jogador

Os mais novos devem ter visto apenas vídeos com alguns lances do ex-lateral-direito. Mas fato é que Arce foi dominante em sua posição na América do Sul. Eleito sete vezes seguidas pelo jornal uruguaio El País para a seleção de melhores do continente, Arce é até hoje o jogador que mais vezes apareceu no prêmio.

Havia até uma lenda urbana – depois desmentida pelo hoje técnico do Olimpia – de que Ronaldinho Gaúcho teria aprendido a bater falta com ele quando ambos estavam no Grêmio. Arce até diz que o meia observava quando o então lateral-direito batia na bola, assim como ele se inspirou com Juan Manuel Battaglia (meia paraguaio), mas não chegou a dar dicas para a revelação gremista na época.

Foi pelo Grêmio que ele e Fernando Diniz se encontraram pela primeira vez. Logo na temporada de estreia do paraguaio, o Grêmio enfrentou o Guarani e os gaúchos levaram a melhor. Aquela foi a primeira das quatro vitórias de Arce em cima de Diniz, que só ganhou um jogo – no ano seguinte. Ao todo eles se encontraram cinco vezes como jogadores, mas nunca se enfrentaram como técnicos.https://912f682982637f1b83e12828c113e875.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

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Após três anos em Porto Alegre, “Chiqui” Arce subiu um pouco o Brasil e foi negociado com o Palmeiras, a pedido de Felipão. Na equipe paulista, ficou por quatro temporadas e na última delas reencontrou Diniz, dessa vez no Fluminense. Na comemoração de 100 anos do Flu, Arce marcou o gol da vitória palmeirense na especialidade: cobrança de falta. E garantiu a classificação do Palmeiras para a semifinal da Copa dos Campeões Regionais de 2002.https://912f682982637f1b83e12828c113e875.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Depois disso, Arce foi para o Japão atuar pelo Gamba Osaka, mas ficou pouco tempo e depois voltou ao Paraguai. Por lá encerrou a carreira como jogador em 2005, pelo Libertad, e depois já começou a estudar para seguir carreira de treinador.

O Arce técnico

O ídolo paraguaio começou a carreira na beira do campo três anos depois de pendurar as chuteiras. Ele comandou o Rubio Ñu na segunda divisão paraguaia. Logo na primeira temporada foi campeão da segunda divisão e subiu com a modesta equipe paraguaia. Em 2009, em sua estreia na primeira divisão paraguaia, é eleito melhor técnico da competição ao deixar o Rubio Ñu em quarto lugar no Clausura, mesmo sem se classificar para competições internacionais.

Ele fica no clube até 2011, quando é chamado para substituir Tata Martino na seleção do Paraguai. Pouco antes de assumir o país, ele deu entrevista dizendo que seu time no Rubio Ñu tinha um estilo de jogo que lembrava o Barcelona de Pep Guardiola.

– Vejo que há muitas coisas do Barcelona que nós fazemos. Inclusive, muitos amigos que mandam vídeos das partidas me dizem isso. Eu me identifico, evidentemente, com o estilo do Barcelona.

Isso explica um pouco como costumam jogar os times de Chiqui Arce. Apesar de estar há pouco tempo no Olimpia e ter mostrado excelência na bola aérea – afinal, nove dos 12 gols da equipe desde que ele chegou foram assim – normalmente o técnico paraguaio gosta de ter a posse de bola e evitar os chutões e lançamentos. E olha que cruzamento era uma das qualidades do jogador Arce. Além de pressionar o adversário com frequência no campo de ataque. Isso te lembra algum técnico, torcedor tricolor?

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Ter sido um dos principais laterais da história do Paraguai não foi suficiente para manter Arce no comando depois de resultados ruins nas Eliminatórias. Após uma vitória, um empate e três derrotas, ele deixou a seleção e voltou para o Rubio Ñu.

Ele fica um ano na equipe e depois vai para o Cerro Porteño, clube pelo qual foi revelado e já era ídolo quando jogador. Como técnico, foi campeão invicto do Clausura no segundo semestre de 2013 pela primeira vez em 100 anos. Ele deixa o clube em 2014 e assume o Olimpia no ano seguinte e fica até 2016, quando vai para o Guaraní. Naquele mesmo ano, assume o Paraguai pela segunda vez, mas novamente não consegue classificar a seleção para a Copa do Mundo.https://912f682982637f1b83e12828c113e875.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html

Após uma temporada na Arábia Saudita, volta ao Paraguai e conquista mais dois títulos nacionais pelo Cerro Porteño antes de assumir o Olimpia. Dada a rivalidade, há torcedores que considerem o técnico do adversário do Fluminense um traidor e isso deu o que falar nesse mês. Depois de eliminar o Flamengo nas oitavas de final, no clássico entre Olimpia e Cerro, na casa do Cerro, o nome do técnico não foi citado na escalação dos visitantes, o que gerou indignação de Arce.

– Eu sobrevivi à morte do meu filho, não vou falar mais disso. Falo uma última vez, não saiba do telão. Podem apagar o telão, não adianta, não vão apagar o que fizemos aqui. Tenho 52 anos, já passei por tantas coisas. Não vão poder apagar que tenho três títulos aqui, um deles invicto. Aqui no clube (Cerro) tem jogadores que eu gosto como se fossem meus filhos – disse em entrevista coletiva depois do jogo, curiosamente em uma cadeira com o escudo do Cerro Porteño já que era na sala de imprensa do estádio. O clube, inclusive, soltou comunicado oficial dizendo que não foi proposital.

Arce, técnico do Olimpia — Foto: Reprodução/Instagram

Arce, técnico do Olimpia — Foto: Reprodução/Instagram

O Olimpia de Arce enfrenta o Fluminense nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), pelo jogo de ida das quartas de final da Conmebol Libertadores, no Maracanã. O jogo de volta está marcado para a outra quinta, no mesmo horário, no Defensores del Chaco, em Assunção, capital do Paraguai. Quem vencer encara o ganhador de Internacional x Bolívar.

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