Ferramenta de inteligência artificial generativa está sendo disponibilizada pouco a pouco para os brasileiros desde o início do mês. Lançamento precisou ser postergado após decisão do governo brasileiro sobre uso de dados pessoais.
Meta AI, recurso de inteligência artificial integrado a WhatsApp, Instagram e Facebook — Foto: Grande Rio fm
Com a chegada gradual da ferramenta Meta AI ao WhatsApp dos brasileiros, uma pergunta vem à tona: a empresa usará dados pessoais dos usuários para treinar seus robôs?
A ferramenta usa a inteligência artificial (IA) generativa.
Nesse tipo de sistema, um robô pode gerar textos, imagens ou áudios em resposta a uma solicitação do usuário.
No caso da Meta AI no WhatsApp, uma pessoa pode pedir dicas, fazer perguntas ou solicitar traduções. O recurso está disponível em mais de 20 países.
Para gerar conteúdo, esses robôs de IA generativa precisam ser treinados — recebendo uma grande quantidade de dados e catalogando-os.
De acordo com publicações da Meta, o conteúdo da conversa com um robô é usado para treinar a IA, mas esse conteúdo não é associado a informações pessoais.
Por exemplo, se uma mulher chamada Ana que mora em Maceió solicitar várias informações sobre filmes, esses pedidos vão ajudar a treinar o robô, mas o sistema não vai registrar que foi a Ana de Maceió que pediu isso.
Meta AI no WhatsApp: o que é a nova ferramenta de inteligência artificial e como utilizar
A empresa garante que, no WhatsApp, todas as mensagens e ligações pessoais — por exemplo, conversas com amigos — não são acessadas por ela e nem pela ferramenta de IA. Essas comunicações são criptografadas.
Mas a política de privacidade da empresa prevê o uso dos chamados metadados, que incluem a localização, o tipo de celular e versão do aplicativo do usuário.
Para Rafael Zanatta, codiretor da organização Data Privacy Brasil, essas informações podem ser usadas pela empresa com fins comerciais.
“A Meta tem um histórico de exploração dos metadados. Ela sempre diz que os dados são protegidos e que a criptografia ponta a ponta está mantida. Mas ela faz criptografia para o conteúdo da conversa, e não para os metadados. E aí ela explora economicamente esses metadados”, explica Zanatta.
Por ser um dos países que mais usa o WhatsApp, o volume de metadados que podem ser coletados é imenso, ele diz. E isso pode ser usado para direcionar a publicidade ou encontrar padrões de consumo, por exemplo.
“Tem estudos de economia que mostram que você consegue catalogar a população a partir dos metadados do celular dela. Se ela está num Wi-Fi potente no iPhone, ela pertence a uma classe bem específica. Ou se está no 3G, em mobilidade urbana, usando um celular velho”, exemplifica.
A ferramenta Meta AI está disponível para parte dos usuários brasileiros no Whatsapp desde o início de outubro, embora essa estreia estivesse inicialmente prevista para julho.
O lançamento da ferramenta precisou ser postergado após um órgão brasileiro questionar como a empresa, dona também das redes Facebook e Instagram, pretendia usar postagens feitas pelos usuários para treinar robôs de IA.
Na época, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) proibiu a empresa de usar dados pessoais dos brasileiros para abastecer suas ferramentas de IA com informações.
No fim de agosto, a proibição foi suspensa, após a Meta cumprir requisitos da agência — como dar maior transparência sobre o uso de dados e permitir que os usuários exerçam o “direito de oposição” ao uso de dados pela IA.
Meta AI, assistente com inteligência artificial integrado ao WhatsApp, ao Instagram e ao Facebook — Foto: Divulgação/Meta