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O Rey de Franca: jovem promessa do basquete mira Draft da NBA

Campeão do NBB, convidado a treinar com a seleção brasileira e cotado para ser o próximo nome do país a figurar na NBA. Estas são as credenciais de Reynan dos Santos, de apenas 18 anos, que, recém-formado na escola, vislumbra, também, ingressar em uma faculdade. Predicados de uma joia do basquete, ainda em transição para a vida adulta e com responsabilidade de gente grande desde a adolescência.

Antes desta etapa de vida, porém, Reynan dos Santos teve o seu primeiro contato com a bola de basquete aos nove anos. Embora gostasse de jogar futebol, ficou curioso ao ver que os amigos da vizinhança preferiam a cesta ao gol no projeto social Sonhando Alto, sob comando do professor Guilherme Camargo, no bairro Jardim Cruzeiro do Sul, em Araraquara (SP). Não foi amor à primeira vista, mas se apaixonou com o tempo.

– Eu comecei aos nove anos para me divertir. Fui lá ver, mas não gostei muito e parei. Depois de um tempo, um amigo meu, o Raul, me chamou novamente, e eu voltei lá. Eu não pensava em basquete como futuro, gostava mais de futebol, como toda criança brasileira, jogava bem. Aos poucos, fui conhecendo as pessoas do projeto, aprimorando meu jogo e comecei a tomar gosto. Aos 13, decidi ficar com o basquete. Peguei os movimentos rápidos, achava legal fazer bandeja, tinha certa facilidade e comecei a gostar – declarou o armador Reynan, apelidado de King ou “Kingnan”, pelos amigos, em entrevista ao ge.

A dobradinha escola e basquete ocupava a rotina de Reynan dos Santos. A capacidade técnica diferenciada, contudo, fez o jovem se destacar aos olhos do professor. Em 2018, aos 15 anos, precisou amadurecer prematuramente: recebeu uma proposta para atuar pela equipe Sesi Franca Basquete, na cidade homônima. Havia, portanto, chegado a hora de trocar o lar comandado pela mãe-coruja, Luana Camilo, em Araraquara, pelo alojamento do novo time.

– Foi nesse momento que eu falei: quero jogar basquete de verdade, antes era por diversão. Eu achei que a minha mãe não fosse gostar quando veio essa chance de ir para Franca, mas ela falou: “Agora é com você”. Ela me deixou escolher entre continuar em casa ou sair. Eu nunca tinha morado sozinho. Foi difícil morar longe dela, mas tive o apoio, ela disse: “Vai pra cima”. É minha fã número 1, minha melhor amiga, me apoia, me incentiva. Ela não me deixa desistir quando estou triste, tem sempre aquela frase pronta para me ajudar. Financeiramente, a coisa nunca foi boa, tinha só o básico. Eu ficava triste porque, às vezes, não tinha condição de ir para algum campeonato, mas ela sempre tentava de tudo junto com o Guilherme Camargo, que sempre me apoiou.

Coroação em Franca

Em Franca, Reynan dos Santos passou a ser tratado – e a tratar o basquete – com seriedade. Houve uma “virada de chave” impulsionada pelo profissionalismo que a ocasião pedia. E, após um ano na equipe, foi alçado para treinar com o time principal. Em um curto espaço de tempo, o menino de Araraquara não estava mais dividindo a quadra com os colegas de escola, e sim, com jogadores que acompanhava pela televisão.

– Fiquei muito motivado com essa oportunidade. Eu joguei ao lado do George, do Lucas Mariano, caras que eu me espelhava. Estava com 16 anos e trabalhando no time principal, conhecendo mais os jogadores no dia a dia. Fui muito bem acolhido e aprimorei meu jogo – contou o atleta, viciado em outro game além do basquete, o célebre “Fortnite”.

Vestindo a camisa do maior campeão brasileiro da era pré-NBB, Reynan dos Santos atingiu o topo da sua ainda iniciante trajetória no esporte em junho deste ano: se sagrou campeão do Novo Basquete Brasil, o primeiro título da equipe após 14 edições.

– O título do NBB foi conquistado com muito esforço e mérito. Clicávamos sempre nessa tecla de trabalhar para ser campeão. E conseguimos chegar ao topo. Sou grato por conquistar esse título. Esse título foi um sonho realizado, tão novo com um título tão importante. Quando fomos campeões, eu nem sabia como reagir. Não sei nem explicar. Minha mãe me mandou vários áudios me parabenizando (risos) – comentou.

Seleção e NBA

Apontado como uma das joias da equipe, Reynan dos Santos viu as portas da seleção brasileira sub-23, comandada por Tiago Splitter, ex-jogador da NBA, se abrirem. Este mês, ele conquistou o título do Global Jam, torneio amistoso realizado em Toronto, no Canadá, envolvendo Estados Unidos, Itália, além dos donos da casa.

– Esse período na seleção foi importantíssimo para a minha carreira, não só pelos jogadores que lá estavam, como o Yago, o Caio Pacheco, o (Gabriel) Campos, todos referências. Mas o que achei mais top foi o Tiago Splitter, um “coach” que me ajudou com a sua experiência, dicas, bagagem na NBA… tudo isso conta para a minha carreira. Estar naquele clima, fazendo jogos bons, apertados, foi incrível. Eu me senti confortável com a confiança que o Tiago me passou.

Em ascensão, Reynan almeja repetir, em 2023, os passos de Gui Santos, o último brasileiro a ser draftado por um time da NBA. O armador vai completar 19 anos em fevereiro e, portanto, estará apto a se inscrever na “peneira” da principal liga de basquete do mundo.

– Sou um moleque sonhador, meu foco é chegar na NBA. Sonho alto e me sinto capacitado. Vou continuar trabalhando, evoluindo, mas quero chegar na NBA, ser draftado. Eu me imagino lá, me vem na cabeça. Eu acompanho bastante, não tenho preferência por um time para ser draftado, todos são tops. Assisto bastante, gosto muito do Curry. Tem o Gui Santos, o Didi (Louzada), caras que são meus ídolos. É muito foda vê-los na NBA. Todo trabalho tem sua recompensa, então fico tranquilo, não fico ansioso. Mas quando meu nome for chamado lá, acho que não vou conseguir segurar as lágrimas, porque sempre me pego pensando nisso. Chegar na NBA é o sonho de todo jogador.

Reynan dos Santos atua nas categoria de base da seleção — Foto: CBB/divulgação

Reynan dos Santos atua nas categoria de base da seleção — Foto: CBB/divulgação

O plano B de Reynan dos Santos é cursar faculdade de Administração ou Contabilidade. Diz que a carreira de atleta é curta, portanto, não custa se precaver. Mas, se as expectativas se confirmarem, sua graduação será mesmo nas quadras da NBA.

(GE)