Paulo Roberto Falcão foi um dos maiores jogadores de futebol do planeta. Quem viu garante: no início da década de 80, ninguém jogou como ele. Boa visão de jogo, ótimo chute, elegância, grande caráter e habilidade incomum sempre foram os pontos fortes de Falcão, que o tornaram ‘majestade’ em solo italiano e grande ídolo do Internacional.
Nascido em Abelardo Luz, Santa Catarina, no dia 16 de outubro de 1953, Falcão, desde menino, teve a bola como brinquedo predileto. Não a toa, seu legado no futebol foi além de suas atuações nos gramados. Estudioso, o catarinense também contribuiu para o futebol como treinador e comentarista esportivo. Coincidência ou não, quando pequeno, ajudou o pai a carregar tijolos para a construção do Beira-Rio, onde seria sua casa pouco tempo depois.
Início difícil no Internacional e a mudança de posição
Aos 15 anos, Falcão teve seu primeiro desafio no futebol. Sob os olhares do saudoso Jofre Funchal, foi aprovado e integrado nas categorias de base do Sport Club Internacional. Morando em Caxias do Sul, precisou vender garrafas para juntar dinheiro de passagem para chegar aos treinos em Porto Alegre.
Seus primeiros passos na carreira foram dados como meia-esquerda, mas ao chegar na categoria infanto-juvenil, o jogador migrou para a primeira linha de meio campo, se tornando volante. E que volante! No ano seguinte, após grande destaque na base, Paulo Roberto foi convocado para a seleção brasileira que disputou os Jogos Olímpicos de 1972, em Munique.
Promoção aos profissionais e idolatria no Colorado
Em 1973, a ascensão foi contínua e o agora volante conquistou sua promoção para os profissionais do Inter. Não foi de imediato, mas aos poucos o menino franzino, de canelas finas e cabelos loiros encaracolados, foi conquistado a todos em Porto Alegre. No primeiro ano, o jogador ficou como terceira opção num meio campo que tinha Tovar e Carbone.
No ano seguinte, porém, as qualidades de Falcão começaram a aflorar. Cerebral, o volante sabia quando era preciso atuar na primeira linha de meio-campo, mais recuado, ou avançar para se somar a Carpegiani no ataque. Desfilava classe nos gramados, a ponto de ganhar o apelido de ‘Puro Sangue’, dada a elegância de suas largas passadas e a aplicação que deixava em campo.
À frente de seu tempo, Paulo Roberto já colocava em campo há 40 anos, o que os meio-campistas considerados ‘modernos’ aplicam nos dias atuais. Sempre de cabeça erguida, o eterno camisa 5 foi protagonista de uma das maiores gerações, se não a maior, da história centenária do Internacional, conquistando a idolatria da massa colorada e espaço nas convocações da seleção brasileira.
Ao todo, entre 1973 e 1980, foram 161 jogos disputados e 21 gols marcados pelo Inter. Contribuiu, com grande parcela de protagonismo, nos três títulos brasileiros, em 1975, 1976 e 1979, neste último, sendo campeão invicto; Ganhou cinco Campeonatos Gaúchos, foi premiado com duas Bolas de Prata (1975 e 1979) e uma Bola de Ouro (1979) pela revista Placar. Seu último grande feito foi comandar o Internacional no vice-campeonato da Libertadores de 1980.
Rei na Itália e cérebro da geração de ouro do Brasil
Falcão poderia ter ficado a carreira inteira no Internacional. Seria confortável e fácil manter-se na seleção brasileira jogando no clube que o idolatrava, mas ele queria mais. Queria conquistar outros territórios, outros títulos, outras torcidas, e foi desfilar o seu futebol na Itália.
Em solo italiano, o meio campista fez o que se esperava, e foi além. Ganhou duas Copas da Itália e foi, com sobras, o grande destaque no título italiano da temporada 1982/83, com o encerramento de um jejum de quarenta e um anos dos romanistas. Dada a importância da conquista e o fim da fila de títulos para os giallorossos, Falcão ficou conhecido como o “Rei de Roma”, apelido que carrega até os dias de hoje.
O ano de 1982 foi mais que especial para a vida futebolística de Paulo Roberto. Não bastassem as atuações fantásticas e o início da conquista do Scudetto na Itália, o meio campista, mesmo sem atuar nas eliminatórias, formou um esquadrão memorável na seleção brasileira ao lado de Toninho Cerezzo, Sócrates, Zico e companhia, na Copa do Mundo de 1982. Na ocasião, Falcão assombrou o mundo com suas grandes aparições e foi eleito o bola de prata da competição.
De volta ao clube, o brasileiro seguiu como grande líder da Roma e conquistou a Copa em 1984, além de ser vice-campeão europeu na temporada. Uma lesão no joelho e discordâncias com a diretoria encerraram sua trajetória no clube no ano seguinte.
Fim no São Paulo
Em 1985, Falcão voltou ao futebol brasileiro para atuar no São Paulo. No Tricolor do Morumbi, o jogador teve problemas de relacionamento com o então técnico da equipe Cilinho, que o deixou de fora de muitas partidas. Além disso, o volante não havia superado a artroscopia e a recuperação da forte lesão que teve em terras italianas.
Mesmo com todos os problemas, o genial meio campista foi peça importante na conquista do Campeonato Paulista do ano, e chegou a ser convocado para a seleção brasileira na Copa de 86, onde atuou em dois jogos. Pouco depois, Falcão anunciou sua aposentadoria dos gramados.
Chuteiras dão lugar a pranchetas e microfones
Com as chuteiras devidamente penduradas, Falcão atuou na televisão, como apresentador do programa Itália de Falcão, na TV Manchete e nele comentou a Copa de 1990. Conhecido por sua vasta inteligência e conhecimento de futebol, o agora ex-jogador foi convidado para comandar a seleção brasileira neste mesmo ano.
A passagem meteórica pelo selecionado canarinho trouxe novas experiências ao treinador Paulo Roberto Falcão. América do México, seleção do Japão e o próprio Internacional foram algumas delas. A carreira como técnico de futebol deu lugar a um longo período como comentarista na Rede Globo de Televisão.
Em 2011, retornou a carreira de treinador e somou mais alguns trabalhos. Bahia e Sport Recife entraram no currículos de clubes treinados por Falcão. Quis o destino que, em 2016, o Internacional, clube que o revelou e onde é visto como ídolo máximo, fosse o último de sua trajetória como técnico.
(O Gol)