Pedro Paulo Rangel lutava contra doença no pulmão há duas décadas; entenda

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Ator morreu, aos 74 anos, em decorrência de complicações de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, causada por anos de tabagismo

O ator Pedro Paulo Rangel

O ator Pedro Paulo Rangel Divulgação/Lúcio Luna

Um dos mais premiados atores de teatro do Brasil, além de figura televisiva muito conhecida, especialmente pelos papéis cômicos, Pedro Paulo Rangel morreu nesta quarta-feira (21), no Rio de Janeiro, aos 74 anos, em decorrência de complicações de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Com 53 anos de carreira, Pepê, como era carinhosamente chamado por amigos, recentemente teve que cancelar, por causa da doença, a temporada na Casa de Laura Alvim (RJ) de “O ator e o lobo”, monólogo com qual retornou aos palcos em outubro, depois de uma estreia interrompida, em 2020, pela pandemia de Covid-19.

Filho do casal de funcionários públicos Alzira Marques Rangel e Lélio Rangel, Pedro Paulo nasceu no Rio de Janeiro em 1948. Sem artistas na família, ele tinha 11 anos quando tomou gosto pelo teatro, graças a um vizinho do bairro do Rio Comprido, que era ator amador. Como não havia muitos papéis para a sua idade, ele mesmo escreveu uma peça, “Quando os pais entram de férias”.

Algumas montagens depois, ele entrou para o elenco de uma peça infantil, “O bruxo e a rainha”, de Pedro Reis, encenada na Igreja de Santa Terezinha. Lá conheceu o ator Marco Nanini, com quem estudaria no Conservatório Nacional de Teatro, atual Escola de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Unirio.

O ator Pedro Paulo Rangel — Foto: Marcos Ramos/Agência O Globo

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Pedro Paulo Rangel teve a sua primeira experiência em teatro profissional em 1968, em São Paulo, na peça “Roda viva”, de Chico Buarque, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Com o Grupo Oficina de Zé Celso, ele fez, em 1969, “Galileo Galilei”, de Bertolt Brecht, e lá conheceu Jô Soares, que o levou para fazer uma versão de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. Em 1970 Pepê fez seu primeiro protagonista, “Jorginho, o machão”, de Leilah Assumpção, com direção de Clóvis Bueno.

O teatro foi responsável por muitos dos prêmios do ator. Em 1982, ele recebeu seu primeiro Moliére, por “A aurora da minha vida”, de Naum Alves de Sousa. Ele ganharia mais dois: em 1989, por “Machado em cena – um sarau carioca”, de Luís de Lima; e em 1994, por sua interpretação como Padre Antônio Vieira, em “O sermão da quarta-feira de cinzas” (que também lhe valeu os prêmios Shell e Mambembe). Em 1996, levou o Prêmio Cultura Inglesa pelo Shylock de “O mercador de Veneza”, de William Shakespeare. E em 2004, outro prêmio Shell pelo monólogo “Soppa de letra”.

Em 1970, Pepê fez sua estreia na televisão, na TV Tupi de São Paulo, na novela “Super plá”, de Bráulio Pedroso.

— Eu fazia um garçom. E era uma coisa difícil, porque eu era muito nervoso, então, a bandeja de cálices fazia muito barulho na minha mão. Mas eu estava cercado de amigos: a direção era do Antônio Abujamra; Bráulio escrevia; tinha o Antonio Pedro, tinha a Marília Pêra, que era a turma com quem eu estava fazendo “Roda Viva” — contou o ator ao Memória Globo.

O ator Pedro Paulo Rangel — Foto: Divulgação/Lúcio Luna

O ator Pedro Paulo Rangel — Foto: Divulgação/Lúcio Luna

Em 1972, Pedro Paulo foi convidado pelo diretor Moacyr Deriquém, para trabalhar na TV Globo. Estreou como Gastão, personagem da novela “Bicho do mato”, e, ainda em 72, esteve em “A patota”, contracenando pela primeira vez na TV com o amigo Marco Nanini.

Três anos depois, ele chegou ao sucesso como o Juca Viana de “Gabriela”, novela em que protagonizou o primeiro nu masculino da TV brasileira, numa cena que mostrava o casal Juca e Chiquinha (Cidinha Millan) sendo atirado na rua, depois de ser flagrado na cama (“lá de longe, pequenininho, mas a gente gravou sem roupa”, disse o ator ao Memória Globo).

Ainda em 1975, Pedro Paulo ganhou seu primeiro protagonista na TV, o jovem aventureiro Carlos de “O noviço”. Um ano depois, em “Saramandaia” (1976), interpretou seu primeiro galã, Dirceu. Na Globo, fez ainda “O pulo do gato” (1978) e, no ano seguinte, voltou à Tupi, onde fez “Dinheiro vivo”.

Pedro Paulo Rangel retornou à Globo em 1981 e, convidado por Jô Soares, atuou em esquetes no programa “Viva o gordo”. A experiência no humor foi tão bem-sucedida que, anos depois, ele entrou para o elenco da segunda temporada de “TV Pirata” (1988), uma revolução satírica na TV brasileira.

— Olha, era bárbaro. E uma das melhores coisas, acho que era poder experimentar, naquele horário, dentro da TV comercial — disse o ator ao Memória Globo. — Na televisão, só muito tempo depois que eu desenvolvi algum relacionamento com a câmera. O teatro te dá um tempo maior para você elaborar as coisas. Só quando eu fui fazer a “TV Pirata”, isso muitos anos depois, com a obrigação de fazer cinco, seis tipos diferentes por dia é que me deu um relaxamento, no sentido amplo mesmo da palavra, para poder lidar bem com o ritmo da televisão.

Ainda em 1988, Pedro Paulo Rangel voltaria às novelas (depois de um hiato de 10 anos), como Poliana, o sócio boa-praça de Raquel Accioli (Regina Duarte) em “Vale tudo”, de Gilberto Braga. Em seguida, fez sua primeira minissérie, “O primo Basílio”, adaptação do romance de Eça de Queiroz, feita por Gilberto e Leonor Bassères.

Nos anos seguintes, na TV, o ator viveu personagens clássicos, como o homossexual Adamastor, da novela “Pedra sobre pedra” (1992) e o Zózimo, marido traído da minissérie “Engraçadinha… seus amores e seus pecados” (1995). Em 2000, esteve na novela “O cravo e a rosa” (recentemente reexibida no “Vale a pena ver de novo”). Na trama de Walcyr Carrasco, ele foi o caipira Calixto.

— Definitivamente, Calixto é um personagem que agradou ao público e a mim. Está entre os meus trabalhos preferidos, ao lado das peças que fiz com Jô Soares e do monólogo “Sermão da quarta-Feira de cinzas”. Até nele tinha riso… A comédia me persegue. E essa profissão é muito privilegiada, a gente trabalha pelo lazer das pessoas — observou o ator, este ano, em entrevista ao “Extra”.

Outro personagem de grande sucesso de Pedro Paulo Rangel foi o cinéfilo Argemiro Falcão, o Gigi, irmão da vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro), de “Belíssima” (2005). Além de seus trabalhos em novelas e minisséries, sua carreira enfileirou participações em seriados e especiais da Globo, como “Você decide” (1992-1998), “A diarista” (2004), “Os aspones” (2004) e “Sob nova direção” (2005).

No cinema, a participação do ator foi bem variada. Ele esteve em filmes como a comédia erótica “Como era boa nossa empregada” (1973), “Menino do Rio” (1982), “Caramuru – a invenção do Brasil” (2001) e “O concurso” (2013).

Pedro Paulo Rangel estava internado na Casa de Saúde São José, no Rio, para tratar de DPOC, doença pulmonar obstrutiva crônica. Ele esteve na UTI e depois voltou para o quarto. Nos últimos dias, porém, os médicos disseram a amigos próximos que uma intubação seria o melhor caminho para que a medicação fizesse efeito. O ator tinha sido internado em meados de novembro pelo mesmo motivo e chegou a receber alta no último dia 26. Contudo, acabou tendo que retornar à unidade.

Morador de Copacabana, Pedro Paulo Rangel costumava se deslocar pelo bairro em uma scooter, por perder o fôlego em longas caminhadas. A DPOC veio à tona depois de anos de tabagismo.

— Parei de fumar em 1988, no século passado. Adotei uma vida saudável, aprendi a nadar, andava na praia… E em 2002 soube que estava doente. Eu não senti a doença, eu a descobri. É traiçoeira. Quando aparece, não tem mais chance. Mas eu consigo levar a vida muito bem, desde que esteja medicado. Faço fisioterapia, atividades físicas com um personal.

(Fonte: O globo)