‘Pipoco’ chega ao nº 1 do Spotify no Brasil; saiba história da música de Ana Castela, Chris no Beat e Melody

0
447

‘Boiadeira’ de 18 anos chamou funkeira de 15 para parceria. Podcast g1 ouviu explica nova geração do modão modernizado que exalta o agro e se apropria de batidas do funk e eletrônica.

Por Rodrigo Ortega, g1

19/07/2022 14h41  Atualizado há 5 dias


Ana Castela se juntou com Melody e DJ Chris do Beat para lançar a música. — Foto: Reprodução

“Pipoco”, parceria de Ana Castela, MC Melody e DJ Chris no Beat, chegou nesta terça-feira (19) ao primeiro lugar diário da parada brasileira do Spotify, principal plataforma de streaming do mundo. Os três artistas nunca tinham chegado ao topo deste ranking.

A música marca a chegada de uma nova comitiva que desbrava as paradas do Brasil, de chapéu e bota, com um pé no passado do sertanejo do “modão” de raiz e outro no presente do funk, rap e eletrônica.

As letras parecem propaganda do agronegócio é o som é um sertanejo que expande fronteiras agrícolas e musicais. O modão virou modinha.

Aos 18 anos, a “boiadeira” Ana Castela é a ponteira dessa geração. “Pipoco” foi composta pelo DJ Chris no Beat a partir de uma base eletrônica, prática pouco comum no sertanejo. Para amarrar essa aproximação com o funk, eles chamaram para participar a paulistana Melody, de 15 anos.

‘Pipoco” rendeu memes sobre a dicção confusa de MC Melody, cantora convidada da faixa. Mas a dona da boiada é Ana Castela, ícone dos fãs novinhos que dançam de chapéu e bota no TikTok.

Ana Flávia Castela nasceu em Amambai (MS) e foi criada na vizinha Sete Quedas, na fronteira com o Paraguai. Os avós tinham uma fazenda no lado paraguaio. Ela cresceu entre os dois países, aprendeu a cantar em um coral de igreja e começou a postar covers de músicas pop no YouTube.

Ana foi levada para o escritório Agroplay pelo compositor e empresário Rodolfo Alessi, amigo da mãe dela. O primeiro tiro já foi no alvo. “Boiadeira” saiu em fevereiro de 2021.

Ainda de aparelho nos dentes e espinhas no rosto, Ana cantava sobre uma menina que trocou a cidade pelo interior: “A maquiagem dela agora é poeira”.

“Boiadeira” virou a alcunha da cantora de 18 anos. A faixa ganhou um remix do DJ paulistano Lucas Beat, que mistura funk e house. Com “Nois é da roça bebê” e a levemente eletrônica “Neon”, Ana virou ícone dos fãs novinhos que dançam de chapéu e bota no TikTok.

Ela virou ponteira da comitiva do “agro” com a explosão country-funk-EDM de “Pipoco”, com DJ Chris no Beat e MC Melody. Ana chegou a entrar na faculdade de Odontologia, mas largou. Agora, jogar PlayStation é a única coisa que consegue fazer entre turnês e gravações.

DJ Chris no Beat — Foto: Divulgação

O remix de “Boiadeira” feito por Lucas Beat mostrou o potencial do agro eletrônico. Mas quem abraçou essa mistura foi um DJ de mesmo sobrenome artístico: Chris no Beat. Christian Valezi, 31 anos, de Londrina, era produtor musical de duplas como Pedro Paulo e Alex.

Na pandemia, o trabalho diminuiu e ele virou videomaker. Acabou indo filmar os primeiros clipes de Ana Castela, conheceu Lucas Beat e viu o potencial do estilo. A primeira faixa como DJ foi “Saudade de aglomeração”, com Pedro Paulo & Alex, Bruno & Barreto, Léo & Raphael e Loubet.

No fim de 2021 ele lançou o batidão “Pira nos caipira”, com Luan Pereira. “Deu muito bom no TikTok”, descreve. Ele viu que a “molecada mais nova” queria “uma mistura modernizada para escutar no carro ou numa festa”. Já pela Agroplay, lançou um DVD com sucessos como “Juliet e Chapelão”.

“Se você pegar os tops do streaming, vai ter um funk, um rap, uma música eletrônica”, descreve Chris no Beat. Seu modão modernizado, portanto, é uma forma de entrar na “competição com as outras músicas no mercado”.

O jornalista e pesquisador GG Albuquerque notou, em artigo para o site I Hate Flash, que “(o agronejo) opera como máquina de propaganda da indústria agropecuária, muitas vezes apropriando-se de discursos e narrativas de gêneros musicais marginalizados, como o funk”.

A produção de “Pipoco” subverteu a prática sertaneja. “Eu já tinha feito a batida, e chamei a Ana e o pessoal ali para escrever em cima dessa base”, ele conta.

A composição em torno do beat é o jeito mais comum de se criar música pop eletrônica em vários lugares do mundo – mas não em Londrina. “Agora vamos fazer outras assim”, adianta Chris.

Ele diz que a referência são produtores dos EUA. Se as letras tentam separar o boiadeiro do playboy da capital, o som nunca foi tão próximo.

Conheça Ana Castela, a boiadeira dos ‘brutos’

“Pipoco” é a única da carreira de Ana Castela que ela assina também como compositora.

“Eu dei a ideia da fala do começo, do ‘se prepara’ e de falar do chapéu (da marca) Kanadá. Até isso deu certo, a empresa marcou a gente”, ela conta.

Ana e Melody incorporam versões rurais, divertidas e mais próximas do público jovem de popstars atuais como Anitta e Luisa Sonza.

“Eu escuto muito sertanejo – Israel e Rodolffo, Hugo e Guilherme, Marília Mendonça. Mas também ouço muito Luisa Sonza, Anitta, Ludmilla. Meu estilo não é só no agro. Eu escuto tudo e mais um pouco”, diz Ana.

No clipe, as adolescentes dançam em um cenário de boate e andam de cavalo em um cenário rural.

A troca foi real. “Eu levei minhas roupas para para fazer o estilo da Melody mais country. Todas as roupas que ela usa no clipe são minhas, tirando os ‘croppeds’ e os shorts. A gente foi experimentando tudo juntas.”

“Na hora de andar a cavalo, ela não sabia muito, mas a gente foi explicando”, conta Ana.

Ana até defende a amiga de São Paulo dos comentários nas redes sociais sobre a dicção de Melody: “Na verdade eu consigo entender tudo que ela canta”.

(fonte: G1)