Ouça Ao Vivo

Presidente da CPI das manipulações de resultados diz que crime “aflorou com apostas eletrônicas”

Júlio Arcoverde (PP-PI) afirma que quadrilhas de apostadores sempre existiram, mas que a facilidade para apostar em diferentes situações facilitou cooptação de jogadores.


Instalada na última quarta-feira, a CPI sobre manipulação de resultado em partidas de futebol irá investigar a atuação de quadrilhas que aliciam jogadores para cometerem ações específicas em partidas de diversos campeonatos para lucrarem com apostas. O presidente da comissão, deputado Júlio Arcoverde (PP-PI), que também é ex-presidente do River-PI, acredita que crimes do tipo sempre existiram, mas cresceram em quantidade com o surgimento dos sites de apostas e a possibilidade de apostar em vários cenários, e não apenas no resultado da partida.

Deputado Julio Arcoverde, presidente da CPI sobre manipulação de resultados no futebol — Foto: Elias Fontenele/ Jornal ODIA

Deputado Julio Arcoverde, presidente da CPI sobre manipulação de resultados no futebol — Foto: Elias Fontenele/ Jornal ODIA

O parlamentar cita o caso da “Máfia do Apito”, que abalou o futebol brasileiro em 2005. Na época, os árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, além do apostador Nagib Fayad foram acusados de operar o esquema de manipulação para favorecer apostadores com resultados encomendados.

Para Júlio Arcoverde, o proliferação de sites de apostas nos últimos anos, em que qualquer pessoa pode apostar em diversas variáveis, como número de escanteios e de cartões, favoreceu a atuação destas quadrilhas, aumentando o tamanho do problema.

– Acho que este problema aflorou mais com apostas eletrônicas, que facilitou o livre acesso e também para que os jogadores sejam corrompidos. Em 2005 teve a Máfia do Apito, mas era uma coisa mais específica, localizada. Hoje acaba aumentando, tem apostadores de cartão amarelo, de lateral… isto aí é o submundo das apostas – diz.

Edilson Pereira de Carvalho, ex-árbitro que esteve no centro do escâdalo da Máfia do Apito — Foto: Leonardo Lourenço

Edilson Pereira de Carvalho, ex-árbitro que esteve no centro do escâdalo da Máfia do Apito — Foto: Leonardo Lourenço

Na condução dos trabalhos, o deputado defende que a CPI puna os envolvidos nos esquemas, mas que também busque soluções para o setor. No plano de trabalho da comissão, que será apresentado oficialmente nesta terça-feira, consta a apresentação de projetos de lei para regulamentação das apostas no Brasil.

A comissão é formada por 34 deputados titulares e 34 suplentes, entre os quais muitos são dirigentes ou ex-dirigentes de clubes de futebol. Além do presidente, também estão neste grupo os deputados José Rocha (União-BA), que já foi presidente do Vitória; Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ), outro que presidiu o Flamengo; Paulinho Freire (União-RN) foi presidente do América-RN; e André Figueiredo (PDT-CE) foi presidente do conselho do Ceará. Maurício do Vôlei (PL-MG) também faz parte.

– A CPI tem que ser punitiva e propositiva. É uma questão muito sensível que estamos passando no futebol. A gente tem que ter muita tranquilidade e sapiência. Todos os membros são pessoas que já passaram por clubes, federações, associações, e isto vai nos dar uma substância maior na comissão – afirma.

Instalação da CPI

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as suspeitas de manipulação no futebol brasileiro para beneficiar apostadores foi oficialmente instalada na última quarta-feira, a requerimento do deputado Felipe Carreras (PSB-PE), que ocupa o posto de relator. Para a presidência, foi eleito o deputado Júlio Arcoverde, que já foi presidente do River-PI.

CPI Manipulação do Futebol  — Foto: Mariana Fraga/ge.globo

CPI Manipulação do Futebol — Foto: Mariana Fraga/ge.globo

Os trabalhos tem duração prevista de 120 dias, prorrogáveis por mais 60. Ao término desse período, é elaborado relatório com as conclusões da CPI, que é encaminhado ao Ministério Público ou à Advocacia-Geral da União, para que apurem a responsabilidade civil e criminal dos infratores ou adotem outras medidas legais cabíveis.

O que é a operação Penalidade Máxima?

As investigações começaram no final do ano passado, depois que o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Ele recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os demais R$ 140 mil após a partida. Como não foi relacionado, tentou cooptar colegas de time – sem sucesso.

Investigações começaram a partir de denúncia de participação de Romário, volante ex-Vila Nova — Foto: Comunicação/VNFC

Investigações começaram a partir de denúncia de participação de Romário, volante ex-Vila Nova — Foto: Comunicação/VNFC

A história então vazou e o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, ele próprio um policial militar, investigou o caso e entregou as provas para o Ministério Público de Goiás. A primeira denúncia, feita há dois meses, indicava que havia três jogos suspeitos na Série B do ano passado. Mas, como o ge publicou, havia a suspeita de muito mais jogos, em várias competições, o que faria a operação se tornar nacional. Foi o que aconteceu. As suspeitas agora chegaram à Série A.

No total, 15 jogadores de diferentes clubes foram denunciados pelo Ministério Público nas duas fases da operação e viraram réus por participarem do suposto esquema.

São eles: Romário (ex-Vila Nova), Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã); Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR); Eduardo Bauermann (Santos); Gabriel Tota (Ypiranga-RS); Victor Ramos (Chapecoense); Igor Cariús (Sport); Paulo Miranda (Náutico); Fernando Neto (São Bernardo); Matheus Gomes (Sergipe).

(GE)