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Sequestro em ônibus: criminoso atirou em passageiro achando que ele era um policial à paisana

Quando Paulo Sérgio Lima foi levado para a 4ª DP (Praça da República), uma de suas vítimas, Bruno Lima da Costa Soares, de 34 anos, lutava pela vida em cirurgia no Hospital municipal Souza Aguiar. Ele foi baleado no tórax e no abdome. Outra pessoa foi atingida por estilhaços e atendida no local. A combinação do barulho de tiros com multidão resultou em desespero: sem saber o que estava acontecendo, trabalhadores e usuários da rodoviária corriam a esmo, em busca de alguma proteção. Logo caíram nas redes sociais cenas de pavor: “é o tiro, o tiro, cara. Vem, vem”, diz uma mulher, em vídeo.

— A gente se abaixou no chão com muito medo, estava embarcando minha filha. Foi muita tensão, gente atropelando gente — disse Valdineia Santos de Sousa Corrêa.

Vitor Peixoto, de 41 anos, estava chegando do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, quando esbarrou com o caos na frente da rodoviária. A viagem para visitar a família no interior do Rio, em Barra do Piraí, estava marcada para as 19h, mas, diante do cenário encontrado, o militar do Exército não tinha certeza se conseguiria embarcar:

— Não tenho onde ficar, vou ter que procurar um hotel por aqui e ver se colocam a minha passagem pelo menos para amanhã. É difícil, um gasto e uma situação que a gente não espera, ficamos perdidos.

O Corpo de Bombeiros foi acionado para a emergência às 15h. Em seguida, agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) iniciaram as negociações com o suspeito e, ao mesmo tempo, passaram a orientar os presentes a deixar o terminal.

Sem saber o que fazer — ou para onde ir, já que muitos estavam de partida da cidade —as pessoas se amontoavam na calçada, diante de um grande engarrafamento proporcionado por interdições feitas pelos policiais: até o espaço aéreo sobre a rodoviária foi fechado. O tempo médio para atravessar a Ponte Rio-Niterói, próxima da rodoviária, de 13 minutos, chegou a 33 minutos, no sentido de Niterói, e 55 minutos, rumo ao Rio.

Dentro da rodoviária, os policiais se organizavam para agir sem ameaçar a integridade física dos reféns. Negociadores entraram em ação, e até um outro coletivo foi posicionado na plataforma central para bloquear a visão do ônibus onde estavam os reféns.

Daiana Carelli, de 34 anos, nascida em Juiz ade Fora, era uma das passageiras do ônibus, mas conseguiu deixar o veículo antes que o sequestro tivesse início. Nas redes sociais, ela relatou que vivenciou.

— Só para avisar vocês que eu estou bem. Eu saí minutos antes do cara atirar dentro do ônibus — disse, em vídeo publicado em sua conta no Instagram: — Tirei uma foto para mandar para um amigo, e só vi os tiros comendo lá dentro, o vidro quebrando. Deu tempo de correr. E aí eu deitei na primeira rampa que tinha. Passou um tempinho e a polícia chegou e teve nova troca de tiros.

A carioca Priscila de Andrade Timótheo, de 36 anos, não teve a mesma sorte de Daiana. Dentro do ônibus, no momento dos disparos, gravou um vídeo e enviou para a irmã. Nas imagens, compartilhadas pelo cunhado nas redes sociais, aparece chorando. Ao fim da ocorrência, telefonou para a família:

— Ela ligou e disse: “Só pensei nos meus filhos” — contou Isaias Henrique, cunhado de Priscila.

Ouvido informalmente ao ser preso pela polícia, Paulo Sérgio Lima admitiu que integra o tráfico na Muzema, na Zona Oeste do Rio. No último domingo, conta, ele esteve na Rocinha, onde morava, para pagar dívidas em bares. Durante a visita, disse que se desentendeu com outro criminoso, que atirou contra ele e errou. Em reação, o sequestrador teria disparado de volta e baleado o bandido. Temendo retaliações, passou dois dias escondido em hotéis e decidiu fugir para Minas Gerais.

Já na rodoviária, ao pegar um maço de dinheiro para pagar a passagem, julgou ter chamado atenção para si. Dentro do ônibus, quando o motor apresentou problema e desligou, acreditou que policiais estavam vindo prendê-lo. Paulo afirma que tentou, então, entregar a arma para outro passageiro, mas um dos presentes se assustou e ele acabou atirando.

O sequestrador também contou que, enquanto estava no coletivo, pegou o celular de uma passageira para pesquisar o que estava sendo publicado sobre a ocorrência. Em seguida, gravou um vídeo no celular da refém informando que iria se entregar.

A Rodoviária foi reaberta às 19h25. Em nota, informa que “aqueles passageiros que foram prejudicados pelo fechamento do terminal nesta terça-feira poderão remarcar as passagens, sem pagar multa. Para isso, basta entrar em contato com a empresa de ônibus”.

(EXTRA)